100 dias

Confira 36 trapalhadas dos primeiros 100 dias do governo Bolsonaro

Fatos inusitados, constrangimentos internacionais e falas questionáveis marcam os primeiros 100 dias de governo

Brasil de Fato/São Paulo (SP) |
O Brasil de Fato fez um levantamento de 36 polêmicas, recuos e situações embaraçosas do governo.
O Brasil de Fato fez um levantamento de 36 polêmicas, recuos e situações embaraçosas do governo. - Reprodução

Em pouco menos de três meses e meio, o governo de Jair Bolsonaro coleciona fatos inusitados, constrangimentos internacionais e falas questionáveis. O Brasil de Fato fez um levantamento de 36 polêmicas, recuos e situações embaraçosas dos primeiros 100 dias da gestão atual, que vão desde golden shower no Twitter até liquidificador assassino, passando por ofensas a brasileiros no exterior e desconhecimento da história.

1. Golden shower

Essa não tinha como não estar no topo da lista, porque é quase inacreditável, de diversas formas. Logo após o Carnaval, em 6 de março, o presidente Jair Bolsonaro publicou em seu Twitter - que ele afirma ser o canal oficial para comunicação das suas decisões de governo - um vídeo, digamos, bastante explícito, que mostrava um jovem urinando na cabeça de outro. Logo depois, o presidente fez outro post apenas com o texto “O que é golden shower?”. De uma vez só, o presidente disseminou um vídeo questionável em sua conta oficial no Twitter, criticou a maior festa popular do país que governa e constrangeu seus seguidores e os cidadãos brasileiros. Em 21 de março, 16 dias depois da publicação, ele apagou o vídeo.

2. Meninos de azul, meninas de rosa 

Uma das maiores geradoras de polêmica no governo Bolsonaro é a ministra Damares Alves. Logo nos primeiros dias de governo ela já soltou a pérola de que vivemos em uma “nova era” em que “menino veste azul e menina veste rosa”. Obviamente, o que não faltaram foram memes sobre o assunto.

3. Nazismo de esquerda

Em viagem a Israel no início de abril, Bolsonaro visitou o Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, que lembra as vítimas do genocídio de 6 milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra. Logo em seguida disse que o nazismo era de esquerda porque tinha “Nacional Socialista” no nome, posição defendida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Só que o próprio museu israelense define o nazismo como um movimento de direita. Mais uma vez, Bolsonaro causou um constrangimento internacional.

4. Jornalista ligado à KGB

Em reação a uma reportagem que desagradou o governo sobre a proibição de programas na TV pública para surdos (TV Ines), o Ministério da Educação (MEC) divulgou uma nota - toda em caps lock e com erros de português - acusando o jornalista Ancelmo Góis, do jornal O Globo, de “ser treinado em marxismo e leninismo” pelo Partido Comunista Soviético. A nota também dizia que o então ministro Ricardo Vélez se recusava a "adotar métodos de manipulação da informação, desaparecimento de pessoas e de objetos que eram próprios de organizações como a KGB", o serviço secreto da extinta União Soviética. A teoria da conspiração chegou ao governo.

5. Hino nacional e slogan de Bolsonaro nas escolas

Em carta às escolas, o Ministério da Educação determinou que elas filmassem as crianças cantando o hino nacional e enviassem o arquivo para o MEC. O e-mail pedia ainda que fosse lida uma carta que terminava com os dizeres “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, slogan de campanha de Bolsonaro. Alvo de críticas, o ministério voltou atrás. 

6. Posse de Ernesto Araújo em grego arcaico

A posse do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi um dos primeiros episódios peculiares do governo Bolsonaro. Ele citou passagens bíblicas, fez referências ao guru Olavo de Carvalho, falou em grego arcaico e criticou o chamado “globalismo”, uma teoria bastante difundida em círculos de extrema-direita, mas que não encontra eco na realidade.

7. Ministro do Meio Ambiente e Chico Mendes

Em entrevista ao programa Roda Viva, em 11 de fevereiro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que nunca tinha visitado a Amazônia e que não sabia quem era Chico Mendes, um dos maiores ativistas ambientais da história do Brasil e líder seringueiro, assassinado em 1988, no Acre. Mesmo assim, o ministro ainda disse que Chico Mendes era um aproveitador que “usava os seringueiros”.

8. Moro e o calendário no Twitter

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, criou uma conta no Twitter. Após supostamente ser questionado sobre a veracidade de seu novo perfil, postou uma foto segurando um calendário aberto no mês de abril. O ato foi inusitado porque geralmente as provas são feitas com um jornal do dia. Não demorou para que chovessem memes e montagens com sua foto, apontando que o juiz não sabe produzir uma prova, em referência à condenação do ex-presidente Lula, baseada apenas em delações premiadas.

9. Eduardo na reunião com Trump

Os constrangimentos internacionais parecem ser o forte do governo Bolsonaro. Nesse caso, ele veio aliado a uma inabilidade política interna. Em visita aos Estados Unidos Bolsonaro deixou o ministro das Relações Exteriores fora da reunião com o presidente Donald Trump. Quem entrou no lugar dele foi o filho de Jair, Eduardo Bolsonaro.

10. A demissão de Bebianno 

A primeira demissão de um ministro de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, envolveu conversas de whatsapp, informações desencontradas e trocas de acusações. O mais inusitado foi a participação do filho vereador do presidente, Carlos, no episódio. Ele fez postagens no Twitter criticando o ministro e foi acusado de ter sido o responsável pela sua demissão, ainda em fevereiro.

11. Carlos e o Twitter do pai

A conta do presidente da República no Twitter, canal escolhido para ser o principal meio de comunicação de Bolsonaro com o país, não é controlada nem pelo próprio presidente nem pela sua equipe de Comunicação, mas por um vereador do Rio de Janeiro. Trata-se de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, pago pela população carioca para ser seu representante. Os indícios foram apontados pelo site The Intercept. Carlos não poderia assumir formalmente um cargo no governo federal porque existem leis contra o nepotismo, mas também não é adequado que alguém de fora da equipe do presidente tenha acesso a informações da cúpula do governo.

12. Flávio e o Hamas

Depois de o Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza, criticar as medidas anunciadas por Bolsonaro em Israel, o filho do presidente Flávio Bolsonaro postou em seu Twitter um print de uma notícia sobre o grupo acompanhada do texto “Quero que vocês se explodam” e apagou logo em seguida. O Hamas respondeu e chamou Flávio de “o filho do extremista presidente brasileiro”.

13. Gafe com a rainha da Inglaterra

A rainha Elizabeth enviou, pelo Twitter da Família Real Britânica, uma mensagem de condolências às vítimas de Brumadinho. O presidente Bolsonaro respondeu chamando a rainha apenas de “Queen”, uma forma considerada rude e inadequada. A forma adequada seria Her Majesty ou Your Majesty.

14. Árvore maior que a do Lula 

Em sua visita a Israel, Bolsonaro plantou uma oliveira no Bosque das Nações, em Israel. Ao saber que estava perto da plantada pelo ex-presidente Lula, fez uma brincadeira que não parece condizer muito com a idade ou o cargo do presidente: “A minha crescerá mais que a dele”.

15. Fala de 6 minutos em Davos 

Bolsonaro tinha 45 minutos para falar sobre o Brasil a líderes mundiais e investidores. Usou seis. Além do constrangimento pelo desperdício de tempo, ele ainda fez uma fala genérica, considerada sem conteúdo, que surpreendeu os presentes no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, em janeiro. No dia seguinte, cancelou a entrevista coletiva que concederia a jornalistas, 40 minutos antes de ela acontecer.

16. Despetização furada

Bolsonaro começou o governo prometendo uma “despetização”. Em uma semana, ele exonerou 293 de cargos de confiança. Desses, 1% era de petistas. A limpa deixou a Casa Civil sem pessoal nem para demitir ou contratar novos funcionários. Depois, em 18 de março, comentou no Twitter um decreto que extinguiria 21 mil cargos comissionados. Na prática, foram extintos 159 cargos que não estavam nem ocupados. Ninguém foi demitido.

17. Treta com Rodrigo Maia

Mais uma vez, Carlos Bolsonaro causa polêmica. Ele criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em seu Twitter e irritou um dos mais importantes aliados do governo de seu pai. A discussão ganhou força e causou uma crise entre Executivo e Legislativo, provocando uma sequência de troca de farpas entre os dois líderes.

18. Liquidificador

No meio do debate sobre a flexibilização da posse de armas, em janeiro, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, comparou o risco para uma criança de ter uma arma em casa ao de ter um liquidificador. Claro, virou meme.

19. Mudança da embaixada em Israel

Bolsonaro prometeu em campanha que mudaria a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, reconhecendo a cidade como capital de Israel, o que contraria o entendimento da comunidade internacional. Só que a promessa irritou países árabes e muçulmanos, que importam muito mais do Brasil do que Israel. Bolsonaro, então, fez o que faz melhor: voltou atrás. Já em abril, voltou a afirmar que ainda fará a mudança, que não tem data definida. Até 2018, a posição brasileira sempre tinha sido de equilíbrio entre os dois lados.

20. Envio de foto a embaixadas

Mais uma vez, um constrangimento internacional. No fim de março, o governo enviou a embaixadas de outros países no Brasil uma foto oficial de Bolsonaro. As embaixadas, porém, são extensões de governos estrangeiros e expõem as fotografias dos chefes de Estado dos países que representam, e não de uma autoridade brasileira. O caso gerou estranhamento nas embaixadas e entre os diplomatas brasileiros.

21. Caderneta de vacinação

Em transmissão ao vivo em seu Facebook no início de março, Bolsonaro recomendou que os pais rasgassem as páginas com informações sobre educação sexual da caderneta de vacinação de seus filhos.

22. O vereador e a agenda de presidente 

O governo Bolsonaro parece não entender quais são os limites entre representação política e relação familiar. Durante agenda do pai, Jair, nos Estados Unidos, o filho 02, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro, foi a Brasília tocar a agenda do presidente, o que deveria ser feito pelo vice, Hamilton Mourão.

23. Tonho da Lua

O filho vereador de Bolsonaro, Carlos, recebeu o apelido de Tonho da Lua de integrantes do próprio partido, o PSL. A referência é ao personagem interpretado por Marcos Frota na novela Mulheres de Areia, em 1993, que tinha problemas psiquiátricos e rompantes de raiva. O apelido seria justificado pela incapacidade de Carlos de manter um diálogo linear. 

24. O sobrinho assessor sem cargo 

Em 45 dias de governo, um primo dos filhos mais velhos de Bolsonaro foi ao Palácio do Planalto 58 vezes, frequência maior que a do próprio presidente, como apontou o jornal Estado de S.Paulo. O detalhe é que Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, não tem nenhum cargo na Presidência, mas participou de reuniões como se tivesse. 

25. Síndrome de Drown

Durante a visita ao Chile, em março, Bolsonaro decidiu fazer uma transmissão ao vivo pelo Facebook e começou homenageando o Dia Internacional da Síndrome de Down. Só que ele parecia não ter nenhum conhecimento sobre o tema e errou o nome da condição genética. Ele foi corrigido pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.

26. Michelle e a referência a Eva Perón 

A atriz argentina Nacha Guevara brincou em seu Instagram com uma foto publicada pela primeira dama brasileira, logo nos primeiros dias de governo. É que ela aparece na imagem publicada por Michelle Bolsonaro ao lado de retratos de mulheres de importantes líderes políticos como se fosse Eva Perón. Nacha interpretou a primeira-dama argentina no cinema.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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27 Vídeo sobre 1964 misterioso 

O Palácio do Planalto distribuiu, em 31 de março, um vídeo que defendia o golpe militar de 1964, comemorando seus 55 anos. O material, que não tinha assinatura, contestava a história e afirmava que o golpe freou o avanço do comunismo no Brasil. Ele também foi publicado no Twitter do filho 03, Eduardo. Após receber críticas, a assessoria de imprensa do Planalto não quis se pronunciar e, no dia seguinte, a Secretaria de Governo da Presidência da República (Segov) lançou nota com dúvidas sobre a origem do vídeo.

28. Olavo e os “inimigos”

O guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, indicou e continua indicando membros do governo, como o antigo e o atual ministros da Educação. O inusitado foi que, em 8 de março, ele recomendou que seus ex-alunos que ocupam postos na gestão atual deveriam deixar os cargos, afirmando que o presidente está “repleto de inimigos”.

29. Eduardo e a crítica aos brasileiros

Depois de Bolsonaro anunciar que vai facilitar a entrada de cidadãos estadunidenses no Brasil, sem reciprocidade no tratamento, o filho Eduardo justificou a medida ofendendo os brasileiros. Ele disse que os imigrantes em situação irregular fora do País são um “problema do Brasil” e uma “vergonha nossa”.

30. Treta de Eduardo com Malafaia

Os filhos do presidente já provocaram diversos desentendimentos com aliados do governo. Um deles foi o de Eduardo com Silas Malafaia. Depois de o filho do presidente dizer que imigrantes brasileiros em situação ilegal nos Estados Unidos são “uma vergonha” para o país, o pastor Silas Malafaia publicou em seu Twitter que o deputado “ajudaria muito mais ao governo do seu pai, parando de falar asneira".

31. Brasileiro canibal

O governo Bolsonaro não parece mesmo gostar do Brasil. Seu primeiro ministro da Educação, Ricardo Vélez, disse, em entrevista à revista Veja: “O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo”. Ele foi notificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para esclarecer as informações.

32. Ministro doutor que não é doutor

Depois de muita polêmica, Bolsonaro trocou o ministro da Educação, Ricardo Vélez, por Abraham Weintraub. No anúncio, disse que o novo ministro era “doutor” e em seguida teve que se retratar. 

33. Currículo de Vélez cheio de erros

Um levantamento do Nexo identificou 22 erros no currículo Lattes do primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, Ricardo Vélez Rodríguez. Constam, por exemplo, livros atribuídos a ele que não são de sua autoria, obras escritas por mais autores apontadas como se fossem exclusivas do ex-ministro, livros e artigos duplicados e artigos publicados em periódicos que não são científicos.

34. Fantoche dos Estados Unidos

Depois da fracassada tentativa de cruzar para a Venezuela com a “ajuda humanitária” através da fronteira do Brasil em Roraima, Bolsonaro foi criticado por parlamentares de direita e de esquerda, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que afirmou que o presidente pode ter sido manipulado pelos Estados Unidos.

35. Recuo do Incra

O governo que mais voltou atrás de suas próprias decisões mudou de ideia sobre a relação com movimentos populares. Um dia depois de recomendar o rompimento do diálogo com o MST, o Incra reconsiderou as diretrizes.

36. Edital do MEC

Logo no início de janeiro, o Ministério da Educação, alterou edital anterior e retirou a determinação de que os livros escolares não poderiam ter erros e que deveriam incluir referências bibliográficas. A mudança passava a autorizar propagandas nos materiais e os desobrigava de abordar a diversidade étnica e a não violência contra a mulher. A decisão de aceitar erros em livros didáticos gerou tanta crítica que no dia seguinte o MEC voltou atrás.

Edição: Luiz Albuquerque