O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou, nesta quarta-feira (17), um ato para defender que a Feira Nacional da Reforma Agrária continue a ser realizada no Parque da Água Branca, em São Paulo (SP).
A feira anual do MST, que estava sinalizada para ocorrer no dia 2 de maio, foi adiada para a primeira semana de agosto, com local ainda a definir. Segundo o MST, a razão do adiamento foi a não liberação do Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital paulista, para realização da feira.
A feira não foi autorizada pelo governo de João Dória (PSDB) sob a justificativa de que a estrutura do parque não comporta o evento. Em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente afirmou que a decisão tem caráter “estritamente administrativo e legal”.
Segundo a pasta, na solicitação encaminhada pelos organizadores, o público previsto no evento é de cerca de 30 mil pessoas por dia, o que excederia o máximo de cinco mil visitantes determinado pela Resolução 70/2015. “Neste caso, a solicitação deve ser apreciada pelo conselho gestor, composto por oito membros do governo e outros oito da sociedade civil.”
Mas a secretária-executiva da feira, Carla Bueno, lembra que o próprio conselho aprovou a realização do evento nas últimas três edições. Ela argumenta ainda que as últimas edições da feira absorveram a quantidade de pessoas que passaram pelo parque sem ocorrências negativas.
“O governo Doria se elegeu dizendo que iria acabar com o Movimento Sem Terra. E agora o MST quer realizar sua quarta edição da feira nacional da reforma agrária em São Paulo. A população é toda favorável que a feira aconteça”, diz Bueno.
“Sim, alteramos o fluxo de participação desse parque porque é nesse período que as pessoas se sentem mais motivadas para vir aqui, para conhecer os resultados da reforma agrária no Brasil. A gente democratizar o espaço do parque é importante para a cidade de São Paulo”, completa.
Em 2018, cerca de 260 mil pessoas visitaram a feira durante os quatro dias de atividades, número que supera em quase 100 mil o público da edição anterior, em 2017. No total, foram 420 toneladas de uma variedade de mais de 1,5 mil tipos de produtos diferentes comercializados.
Bueno afirma ainda que o MST não tem a intenção de transferir a feira para outro local porque o parque é importante para o diálogo com um público que já está familiarizado com o debate da alimentação saudável. Há mais de 20 anos, o Parque da Água Branca recebe a feira da Associação de Agricultura Orgânica (AAO) todos os finais de semana.
“Além disso, há a questão geográfica. Estamos perto do metrô, em uma avenida que tem corredor de ônibus para uma população que está nas periferias poder acessar esse lugar, então, para gente é importante que seja aqui. As outras opções que nos deram eram locais distantes, onde ficaríamos escondidos e invisibilizados".
João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, entende que o impedimento para a realização da feira tem motivações políticas.
“Em especial porque a feira do MST é de produtos orgânicos e agroecológicos, oriundos da agricultura familiar e de assentamentos. Além disso, a feira confronta o preço real e custo dos alimentos orgânicos e agroecológicos dos agricultores camponeses com o que aparece nos supermercados. E eles não querem esse debate, do custo de produção. Então, é uma pena que o governo fique com essa disputa ideológica com os movimentos populares”, afirma.
Alimentação é política
Durante o ato, pessoas ligadas a partidos e entidades da sociedade civil se manifestaram favoráveis à permanência do evento do MST no local. Caso de Juliana Braz, que é integrante do Instituto Chão, local que há mais de um ano vende e comercializa produtos do MST na Zona Oeste de São Paulo. Ela lembra da feira realizada todos os finais de semana no local, há mais de 20 anos.
“Aqui é um lugar da resistência alimentar. Das pessoas que individualmente, lá atrás, escolheram se alimentar bem. Então, eu acho que o MST produz, está trazendo comida, politizando a questão da alimentação”, diz.
Para ela, o evento é importante porque politiza essas opções que, a primeira vista, parecem problemas individuais — mas que, na visão de Braz, são saídas coletivas.
“Eu acho que essa discussão da alimentação é um mote importante para a gente colocar mais coisa na conta do prato das pessoas. Trazer que há disputa pela terra, disputa de dinheiro, de recursos. Entender como você se alimenta põe na sua conta de consumo muito mais coisas. E a feira aqui traz a pessoas para isso e de repente elas se colocam num universo muito maior de questões cotidianas para elas do que só comprar um arroz diferente.”
Edição: Aline Carrijo