A gente “abrasileira” tudo, adequando ao nosso paladar pratos de outros países
Todos os dias milhares de trabalhadores e trabalhadoras se deslocam para o centro do Recife. Entre atividades formais e informais, imagino que a maioria passe a boa parte de seus dias fora de casa. Afinal, pegar o transporte público e seguir para o centro a cidade não é tarefa fácil com a pouca mobilidade oferecida no Recife.
Logo, quem não leva o almoço de casa. Muitas vezes, quando pode, come na rua. E é visível como a cada dia cresce a oferta de comida de rua nessa região. Muitos lugares são especializados só em vender almoço para esse público. É o caso do “Yang Leem – Carlos Comida Chinesa”, que descobri na Rua da Palma, servindo iguarias da culinária chinesa: yakissoba, frango xadrez e carne acebolada.
Eu nunca fui à China, não sei se todos esses pratos são típicos de lá, mas sempre tenho a impressão que por lá devem ser bem diferentes de quando os servimos no Brasil. A gente “abrasileira” tudo, adequando ao nosso paladar os pratos de outros países.
Mas, se tratando do Yang Leem, é uma pequena barraquinha em meio a muitas outras que vendem comida no horário do almoço. É só dar uma voltinha na mesma rua e encontrar muitas outras ofertas (macaxeira, feijão, arroz, etc.), com a mesma média de preço, entre R$ 8,00 e R$ 10,00.
No dia que encontrei a comida chinesa na rua, me chamou atenção o cardápio e fui lá provar e fiquei mais atenta ao lugar. A maioria das pessoas que frequenta já é freguês, poucas estavam passando perdidas como eu. Os pratos são bem servidos, o que faz muita gente dividir para baratear, afinal, comer todo dia na rua não é tão barato.
O Yang Leem é um empreendimento familiar. Carlos trabalhava na cozinha de um restaurante que também servia comida chinesa e, depois que saiu do emprego, decidiu vender a mesma comida no centro, para não ficar sem renda. E passa horas, em meio ao calor, com um fogo alto preparando os pratos.
Marília, sua filha, que atende a freguesia, me explica que eles são do bairro de Água Fria e que todos os dias da semana ela é quem sai primeiro de casa com parte dos ingredientes e itens necessários para aprontar o almoço. Ela vai com tudo em um carrinho menor e vai de ônibus mesmo.
A família não tem carro e guarda a barraquinha maior – que se transforma em cozinha ambulante – em um local alugado, no centro mesmo. É assim o dia a dia da maioria dos trabalhadores e trabalhadoras que vendem as comidas.
Na volta para casa, depois das duas da tarde, o serviço não termina, pois começam os preparativos do dia seguinte. Enquanto eu estava almoçando, pensei muito sobre toda essa dinâmica de trabalho, sobre a qualidade do alimento servido, mas, principalmente, sobre o cansaço que é conseguir servir essa comida todos os dias, o malabarismo que é necessário ser feito para ter tudo pronto para quem deseja saciar a fome.
Edição: Marcos Barbosa