Mariana e Brumadinho

Movimentos criticam sequência de medidas judiciais favoráveis à Vale

Em duas decisões distintas, bens da mineradora são desbloqueados e acusação de homicídio arquivada

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Bloqueio de bens havia sido pedido por Defensoria e Ministério Público
Bloqueio de bens havia sido pedido por Defensoria e Ministério Público - Maria Júlia Andrade

Duas decisões judiciais recentes relacionadas aos desastres provocados pela Vale em Mariana e Brumadinho se tornaram alvo de críticas de movimentos populares que acompanham os atingidos pelos crimes ambientais. 

Na primeira delas, de 16 de abril, o desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Alberto Henrique, determinou o fim do bloqueio de bens da mineradora. A decisão foi tomada durante um plantão judicial. O congelamento de R$ 1 bilhão havia sido pedido pela Defensoria e pelo Ministério Público, como garantia para o pagamento de futuras indenizações. 

O magistrado entendeu que o bloqueio “não se mostra producente” e que a Vale “é empresa das mais sólidas [do ponto de vista financeiro] do país”, conforme redigiu na decisão, que pode ser revertida. 

Luiz Paulo Siqueira, da coordenação do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), afirma que o Judiciário mineiro tem um histórico composto por “várias medidas para beneficiar os interesses das mineradoras”, e que a decisão do desembargador pode prejudicar, ao contrário do que diz o próprio magistrado, o pagamento indenizações que sejam estabelecidas.  

“Não é uma novidade. O Judiciário brasileiro como um todo, em especial o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, tem cumprido o papel de verdadeiros advogados do capital mineral”, diz.

Como exemplo dessa associação entre Judiciário e mineradoras, ele cita a realização de congressos pela Associação de Magistrados de Minas Gerais com a participação de executivos das empresas

A outra decisão, do Tribunal Regional da Primeira Região, trancou ação penal que acusava executivos da Vale por homicídio, no caso relacionado à Mariana. 

Joceli Andreolli, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), entende que a medida desestimula que ações sejam tomadas para evitar novos crimes. 

“Isso significa que a Justiça se colocou ao lado dos criminosos. Significa que a Justiça é conivente com os novos crimes que essas empresas vão cometer”, critica. 

Em Mariana, 19 pessoas foram mortas por conta do rompimento da Barragem de Fundão. Em Brumadinho, o último levantamento, ainda não definitivo, apontava 233 mortes. 
 

Edição: Aline Carrijo