Seguindo uma prática já adotada em outras áreas do governo de Jair Bolsonaro, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) nomeou militares para cargos de chefia. As mudanças fazem parte de um processo de reestruturação da estatal de comunicação, conduzido pelo presidente da empresa, Alexandre Graziani.
Dos seis cargos da diretoria da EBC, dois já são ocupados por militares. Um deles é Roni Baksys Pinto, diretor geral desde 10 de abril. O outro é Márcio Kazuaki, diretor de Administração, no posto desde o final de 2018. Os dois se formaram na Academia Militar de Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, a mesma de Bolsonaro.
Outros dois militares chegam aos altos postos da estatal em 2019. O coronel Hidenobu Watanabe é assessor de gabinete do presidente da empresa desde o início de abril. Ele também atua no planejamento de reportagem. E, nas próximas semanas, o tenente-coronel Alexandre Lara também deve se tornar assessor de Graziani.
As nomeações da EBC passam pelo ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, a quem a estatal é submetida, e pelo presidente da República, que faz a publicação no Diário Oficial da União.
Autonomia atacada
A mudança fortalece o processo de desmonte da TV pública brasileira. Em 9 de abril, Graziani anunciou a fusão da TV Brasil com a NBR, TV Nacional do Brasil, canal de televisão do governo federal.
Na prática, a NBR ofertava informações sobre os atos do governo federal, enquanto a TV Brasil mostrava temas que não são acolhidos pelas emissoras comerciais nem estatais.
O desmonte teve reação da sociedade civil, do Ministério Público Federal e da oposição, que pediram a suspensão da portaria que fundiu a TV Brasil e a NBR. Os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB-MA), Margarida Salomão (PT-MG) e Luiza Erundina (PSOL-SP) ressaltam que a portaria fere a autonomia da EBC diante do governo federal, prevista legalmente no ato de criação da empresa, por meio da Lei nº 11.652/2008.
Com a fusão e, agora, com a militarização da EBC, aumentam as chances de que a TV Brasil se confunda com um meio de comunicação do governo. Ela fica cada vez mais distante de um modelo de TV pública independente, com foco no que é de interesse do cidadão brasileiro.
Edição: Cris Rodrigues