A comunidade em questão de conflito está localizada por trás da Polícia Rodoviária Federal, na rua Getúlio Vargas, no município de Bayeux, conhecida como rua do rio do meio. Um longa história de ameaças e tensões permanentes marcam a vida das 103 famílias, que no dia 31 de março, ocuparam o terreno abandonado, iniciando o acampamento Vila Margarida.
Na sequência, o surgimento constante de pessoas que além de oferecer dinheiro para retirada das famílias do local, se utilizou de um conjunto de ações de ameaças e intimidações mediante uma enxurradas de documentos sem a mínima autenticidade com informações contraditórias e de supostos proprietários diferentes.
A professora Sandra, que mora ao lado da ocupação, relata que "quando soube da situação daquelas famílias de pronto se colocou para ajudá- las, pois o que tem acompanhado é uma situação de ameaças diretas e indiretas e, que estranhou quando 6 viaturas da polícia militar, portando armamentos pesados, adentrou a ocupação no dia 04 de abril para retirar o pessoal a força, mas que ela conseguiu intervir e impedir a ação ilegal já que não havia nenhum mandato judicial”,
De acordo com Raquel uma das ocupantes, “a presença de policiais sem mandato adentrando a ocupação e outras pessoas estranhas que se dizem trabalhar pro “doutor” em tom de ameaça” são constantes.
Nesta sexta (09), a ocupação foi “avisada pelo homem do doutor” que receberia a presença do oficial de justiça e da polícia que retiraria as famílias. O que de fato se confirmou, 3 viaturas acompanhavam o oficial de justiça de nome Maurício, que queria retirar as famílias do local. Contudo, de acordo com Lidiane Vieira, Defensora Pública Estadual, que foi acionada e esteve no local, as famílias precisam ser notificadas oficialmente, mas o oficial se recusou a fazê- lo, o que sugere que a ação tenha irregularidades. "As famílias não podem acionar sua defesa no processo, além do mais não compete ao oficial realizar a reintegração, e sim, caso as famílias se neguem, o mesmo deverá comunicar ao juiz, para que ele acione os grupos especializados para executar a ação de despejo, evitando a presença de armas letais como pistolas e metralhadora contra mulheres, crianças e idosos”, explicou a defensora.
Para Gleyson Melo, que acompanha essas famílias sem teto e é do Movimento dos Trabalhadores por Direitos, é um absurdo o que está acontecendo em Bayeux. "Essas famílias nunca tiveram oportunidade de ter acesso à política de moradia do Minha Casa, Minha Vida, simplesmente porque nunca foi construída nenhuma moradia em Bayeux por esta política, portanto nesse quadro de desemprego em que nos encontramos e de fome que se alastra, é legítima a luta dessas famílias por moradia e dignidade", desabafou o militante.
As famílias prometem resistir e lutar pelo direito assegurado pela constituição, o direito à moradia, bem como solicitam à imprensa e organismos de direitos humanos para tomarem conhecimento antes que ocorra algo mais grave. Neste sábado (10), uma comitiva do Ministério Público Federal irá até o local, a partir das 9h, para efetivar uma denúncia contra os abusos e violências sofridas desde então.
Faz tempo que essa situação de Bayeux em relação à moradia vem persistindo, no último dia 2 de abril, ocorreu mais um despejo de forma truculenta. Você pode conferir esta matéria aqui.
Edição: Heloisa de Sousa