Em entrevista à BBC, veiculada na noite desta sexta-feira (10) pela emissora inglesa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o presidente Jair Bolsonaro. “Ele é um doente. Acha que o problema do Brasil se resolve com arma. O problema do Brasil se resolve com livro, com escola.”
Ainda sobre Bolsonaro, Lula insistiu em criticar o decreto que libera armas para os cidadãos brasileiros, assinado pelo presidente na última quarta-feira (8). “Ele defende barbaramente um Estado armado e policialesco. Você não vê o cidadão [Bolsonaro] fazer um gesto a não ser o de atirar. Na cabeça dele, ele acha que arma resolve o problema de todo mundo, ele acaba de autorizar que fazendeiro pode utilizar arma e atirar em quem quiser. É um doente, que acha que o problema do Brasil se resolve com arma. O problema do Brasil se resolve com escola.”
Durante a entrevista, Lula se mostrou preocupado com a sucessão de erros cometidos por Jair Bolsonaro e foi perguntado pelo jornalista Kennedy Alencar sobre a relação do presidente com os filhos. “Ele corre atrás do filho para apagar um incêndio todo dia. Eu sinceramente não sei como funciona a família, como não conheço não vou ficar dando palpite, mas o que se apresenta publicamente é um negócio incontrolável. Pelo bem do Brasil, espero que ele aprenda”, afirmou o ex-presidente.
“Atrás da toga”
Na edição de 30 minutos, Lula respondeu a diversas questões sobre corrupção. O ex-presidente criticou sua condenação pela posse do apartamento triplex no Guarujá. “Se esse maldito apartamento é meu, ele tem que ter um documento, tem que ter um contrato, tem que ter um pagamento. Alguma coisa tem que ser mostrada. Não é possível que alguém diga que o apartamento é meu se eu não comprei, se eu não morei, não paguei, não tem escritura, que negócio é meu?”, perguntou.
Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, segue sendo alvo constante das críticas de Lula. “Ele não nasceu para isso [política], ele nasceu para se esconder atrás de uma toga e ficar lendo o Código Penal, ele tem que se expor ao debate. Eu, por exemplo, se sair daqui, adoraria fazer um debate com o Moro sobre os crimes que eu cometi”, desafiou.
Durante a entrevista, Lula lembrou que foi um líder político respeitado no mundo e que não arriscaria sua reputação por um apartamento. “Se essa gente tivesse prova, essa gente me desmascarava. A única coisa que me interessa é minha inocência e vou brigar por ela até os últimos dias da minha vida”, explicou o ex-presidente, que citou um dos “desatinos” cometidos por Moro.
“A minha reação ao grampo foi que o Brasil estava fora de controle, o Brasil não tinha mais autoridade. Porque um juiz de primeira instância, fazer todo desatino que o Moro fez, fornecer à imprensa em primeira mão, do jeito que ele entendia, a imprensa transformava a mentira do Moro em verdade e aí o cara já estava condenado”, lembrou o ex-presidente.
Nesse período, Lula foi convidado a ser ministro chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff (PT). Sua posse foi impedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente negou que tivesse a intenção de escapar do julgamento. "Eles achavam que eu evitaria o impeachment. Eu, consciente, não achava nenhuma vantagem ir para o governo naquela altura dos acontecimentos. Ninguém entra no carro em alta velocidade para controlar o carro. Eu aceitei, desde que mudássemos a política econômica. Se eu tivesse preocupação de não ser julgado, eu não estaria no Brasil. Eu estou no Brasil porque eu quero estar aqui.”
Junho de 2013
Lula também comentou sobre as mobilizações de junho de 2013, quando centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em todo o país. “Até hoje nós não avaliamos corretamente o que aconteceu em 2013. Ninguém me convence que aquilo aconteceu porque a polícia de São Paulo bateu numa manifestação de três mil pessoas. Não acredito. Aquilo, na minha opinião, já fazia parte da arquitetura política de derrubar o governo, de tirar o PT do poder, porque era uma manifestação muito contra o PT.”
Outro ponto comentado pelo ex-presidente foi o papel que a elite brasileira cumpre na política brasileira. "Eu penso que no Brasil nós temos um problema psicológico coletivo, que é a elite não suportar a ascensão das camadas mais pobres. Incomoda os pobres estarem ocupando as praças que eram dos ricos, estarem frequentando restaurante, viajando nos aviões que eles viajavam, ocupando o espaço de ascensão social que não estava previsto desde o fim da escravidão".
Por fim, o ex-presidente falou sobre o futuro. “Vou brigar para que os setores progressistas da sociedade voltem a governar esse país. Não é possível a gente conviver com a continuidade de mentiras que estamos vivendo. Estou tranquilo com minha consciência. Só tenho eu mesmo e esse povo maravilhoso que está aí fora para provar minha inocência. Quando provar minha inocência, posso morrer tranquilo”, encerrou.
Confira a entrevista:
Edição: Luiz Felipe Albuquerque