Pelo menos 65 manifestantes ficaram feridos em uma ação das forças israelenses na última quarta-feira (15) na cerca que separa Israel de Gaza, durante repressão ao protesto pelo 71º aniversário da Nakba – ou dia da catástrofe. A data marca o início do processo de fuga e expulsão de mais de 800 mil palestinos de suas casas em mais de 1.300 povoados e cidades palestinas pelas milícias sionistas durante a criação do Estado de Israel e a guerra árabe-israelense de 1948.
Naquele ano, as forças sionistas tomaram controle de mais de 78% do território histórico palestino, promovendo uma limpeza étnica e a destruição de 530 povoados e cidades. Milhares de palestinos foram mortos.
A expulsão em massa já havia começado em 1947, com o plano da Organização das Nações Unidas (ONU) para dividir a Palestina em um Estado judeu e outro árabe. Em menos de seis meses, entre dezembro de 1947 e meados de maio de 1948, as milícias sionistas expulsaram 440 mil palestinos de 220 povoados.
A Nakba acabou expulsando entre 85% e 90% da população palestina para garantir a criação do Estado de Israel. Ainda mais, a “catástrofe” não terminou em 1948, continuando por mais dois anos, com o deslocamento forçado da população palestina de Al-Majdal (mais tarde rebatizada de Ascalão pelo Estado de Israel) que se estendeu até 1950.
Diversas organizações palestinas divulgaram notas para marcar o aniversário da Nakba. A Frente Democrática para a Libertação da Palestina fez um chamado para transformar o 71º aniversário da “catástrofe” em um “repúdio total aos acordos de Oslo e a suas obrigações e limitações”, conclamando os líderes palestinos a elaborarem uma estratégia para sair desses acordos de paz e de todos os projetos relacionados.
A nota também chama ao repúdio total do chamado “acordo do século” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exigindo a implementação das decisões tomadas pelo conselho central e nacional, como, por exemplo, a redefinição do relacionamento com o poder de ocupação de Israel e a transferência dos direitos e da causa nacional para as Nações Unidas e o Tribunal Penal Internacional.
A frente conclama, ainda, o Hamas e o Fatah, rivais políticos, a porem fim a suas divergências e formarem um governo de unidade nacional. A nota também fala em tentar reunir todas as vertentes de trabalhadores na Organização para a Libertação Palestina, que chamou de única representante legítima do povo palestino.
A organização de juventude Voz dos Estudantes Palestinos também se manifestou pelo dia da Nakba, reafirmando “o papel vital dos movimentos estudantis e sua responsabilidade histórica no combate à opressão e ao colonialismo onde ele existir”.
O grupo, além de condenar o “acordo do século” de Trump, fez um chamado aos países árabes que estão tentando normalizar as relações com a “entidade sionista” de Israel e recebendo armamento pesado dos Estados Unidos para aceitar o acordo como uma solução justa para a causa palestina.
A nota também denuncia a transferência, pelo governo Trump, da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e o reconhecimento da ocupação israelense nas Colinas de Golã.
Aplaudindo os protestos da Grande Marcha do Retorno em Gaza, o grupo enfatizou que o direito ao retorno não será impedido graças à força e convicção do povo palestino.
No ano passado, no dia 15 de maio, quando a embaixada dos EUA foi transferida para Jerusalém, as forças israelenses mataram cerca de 60 palestinos e feriram cerca de 1.200. A Nakba deste ano ganha importância ainda maior com a possibilidade de Donald Trump anunciar seu “acordo do século”, que deve sofrer forte resistência pelos palestinos.
Edição: Peoples Dispatch | Tradução: Aline Scátola