Uma pesquisa, realizada pelo Instituto Butantan, Universidade Estadual Fluminense e Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostrou que os efeitos do derramamento de rejeito de mineração em Brumadinho (MG) podem causar morte e anomalias em embriões de peixes. O alerta dos pesquisadores é que as consequências a longo prazo para a saúde humana e animal decorrentes do rompimento da barragem da Vale devem ser acompanhadas com extremo rigor. O estudo incluiu dosagem de poluentes, quantificação de micro-organismos potencialmente perigosos e testes ecotoxicológicos. O Jornal da USP no Ar conversou sobre o tema com Mônica Lopes Ferreira, doutora em Imunologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e pesquisadora do Instituto Butantan.
A análise dos efeitos da água e da lama presentes no Rio Paraopeba, atingido pela catástrofe de Brumadinho, foi feita com embriões do peixe popularmente conhecido como paulistinha. O teste começa com o embrião e vai até o momento em que se torna larva, estágio que apresenta todas as características que o animal adulto tem. “O que eu detectei é que boa parte deles morre, e aqueles que ficam vivos ficam com essas anomalias: com defeito na boca, com defeito no olho, com defeito na nadadeira, com defeito nos ovos, com hemorragia… ou seja, um quadro grave”, afirma Mônica. De acordo com ela, o simples contato com essa água e essa lama extremamente diluída já ocasiona esses efeitos: “Não existe nenhuma interação mais grave”.
A água se tornou tóxica, com “uma quantidade extremamente elevada de mercúrio, de 720 vezes a mais do que é permitido, e uma quantidade 100 vezes superior de ferro, além de muitos micro-organismos presentes”. Para a pesquisadora, a conjuntura é de extrema preocupação, e alerta. “O nosso interesse é continuar fazendo as coletas e monitorando a região para observar o que está acontecendo agora”, quase seis meses depois do rompimento da barragem e em um contexto no qual a lama foi se espalhando. Quanto a isso, Mônica ressalta que “a coleta (para a pesquisa) foi feita inclusive em locais distantes, e as anomalias continuam acontecendo”.
Edição: Jornal da USP