TENSÃO

Após fracasso no Brexit, Theresa May renuncia ao cargo de primeira-ministra britânica

Política conservadora discursou nesta sexta (24) em Londres e disse que não aprovar Brexit é "grande arrependimento"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A permanência até 7 de junho servirá para que May “absorva o golpe” de uma possível derrota eleitoral nas eleições da UE
A permanência até 7 de junho servirá para que May “absorva o golpe” de uma possível derrota eleitoral nas eleições da UE - Raul Mee (EU2017EE) via Flickr/CC

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, do Partido Conservador, confirmou nesta sexta-feira (24) sua renúncia ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido.

Ela havia prometido deixar o cargo após conseguir aprovar o Brexit, processo de saída britânico da União Europeia, mas depois de três tentativas frustradas no Parlamento e de pressão interna -- inclusive dos conservadores -- ela afirmou que no dia 7 de junho deixará o comando do Reino Unido.

Em julho, os Conservadores irão escolher um novo primeiro-ministro. Um dos favoritos ao cargo é Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, e um dos principais garotos-propaganda da campanha do Brexit.

Em seu discurso, com a voz embargada, ela disse que foi uma grande honra ser a segunda primeira-ministra mulher do Reino Unido e destacou o que considerou serem conquistas de seu governo, como políticas de cuidado com a saúde mental e reduzir o desemprego. Mas admitiu que não entregar o Brexit “será sempre um profundo arrependimento que levarei comigo”.

A renúncia acontece um dia após o início das eleições para o parlamento da União Europeia, com a participação do Reino Unido, que ainda não conseguiu encaminhar sua saída do bloco continental. O partido Conservador pode sofrer uma grande derrota no pleito.

Segundo a imprensa britânica, a permanência até 7 de junho servirá para que May “absorva o golpe” de uma possível derrota eleitoral e receba o presidente estadunidense, Donald Trump.

O tema do Brexit irá dominar a corrida para a sucessão de May, após três anos turbulentos de mandato. O novo prazo para a saída da União Europeia é em 31 de outubro.

Entenda o Brexit

Em junho de 2016, a maioria dos britânicos decidiu, por meio de um referendo, que o Reino Unido deixaria de fazer parte da União Europeia (UE). A decisão ficou conhecida como Brexit, abreviação de “British Exit”, ou “saída britânica”.

O resultado do referendo, no entanto, se mostrou apenas o primeiro passo de um processo bastante complexo. Passados mais de dois anos desde a decisão, o governo britânico, liderado pela primeira-ministra Theresa May, enfrenta dificuldades para aprovar os termos do acordo e é alvo de críticas e pressões vindas tanto da oposição quanto dos seus próprios correligionários.

Formada por 28 países, dos quais 19 adotam o Euro como moeda comum desde 2002, a União Europeia é um bloco econômico que responde por 20% de todo o volume de importações e exportações do mundo, possuindo um Produto Interno Bruto (PIB) maior que o dos Estados Unidos.

A participação no bloco permite que os países-membros possam trocar produtos e serviços sem a aplicação de taxas e impostos entre si. Além disso, os cidadãos europeus não enfrentam barreiras caso queiram viver e trabalhar em países do bloco.

O Reino Unido, por sua vez, é um Estado insular soberano formado por Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales. O Reino Unido se tornou parte da União Europeia em 1973. Na época, o bloco se chamava Comunidade Econômica Europeia.

Razões para deixar o bloco

A maior parte das críticas à permanência do Reino Unido na UE foram puxadas pelo Partido Conservador, do qual May faz parte. Entre elas está o fato de o Reino Unido contribuir financeiramente com o bloco mais do que os demais países; a imposição de normas burocráticas por Bruxelas, sede do Conselho Europeu; e a intensificação da crise humanitária no Oriente Médio e África, que causou o êxodo de milhões de imigrantes para o continente.

Segundo Giorgio Romano, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), de fato o Reino Unido contribui financeiramente mais do que os outros países do bloco, no entanto, “a UE tem um mercado maior que o dos EUA. Se você não tem acesso a esse mercado, os investimentos podem migrar para outro país. A vantagem de participar do bloco é muito grande”.

Para ele, a imigração e as consequências da crise econômica de 2009 foram bastante exploradas durante a campanha a favor do Brexit. “Houve uma recuperação que reequilibrou essas contas macroeconômicas, mas não deu uma nova perspectiva para as classes populares. Algumas antigas regiões industriais, de manufatura, com pessoas de certa idade, aceitaram esses argumentos e votaram pelo Brexit, achando que isso poderia dar um novo ânimo e que os problemas estavam em Bruxelas”, aponta.

Tensões em torno do acordo

Após a aprovação do Brexit, uma série de negociações entre o Reino Unido e a União Europeia foi iniciada. As discussões se centraram em como deveria ocorrer a separação. O acordo foi aprovado pela UE em novembro, no entanto, o Parlamento Britânico ainda precisa ratificar ou rejeitar o texto.

Inicialmente, a votação estava marcada para ocorrer no dia 11 de dezembro, no entanto a sessão foi adiada para a terceira semana de janeiro de 2019. Um dos motivos apontados para a mudança no calendário foi o de que a premiê sabia que não seria fácil conseguir que a maioria do Parlamento aprovasse o acordo, já que não havia consenso sobre o texto nem mesmo entre a base governista.

Em 12 de dezembro, May foi alvo de uma moção de desconfiança movida por seus próprios correligionários. Alguns membros do Partido Conservador contestaram o modo como ela conduziu as negociações do Brexit.

Para aliviar as tensões, a primeira-ministra já havia anunciado que deixaria o cargo antes das próximas eleições, que irão ocorrer em 2022 - caso não haja antecipação. A premiê conseguiu se manter no cargo por 200 votos a 117.

Além dos desconfortos causados pela moção de desconfiança, quatro ministros britânicos renunciaram ao cargo em novembro, após May apresentar o acordo com a UE. Entre os membros do gabinete que deixaram o governo está Dominic Raab, então ministro do Brexit. Também renunciaram a ministra do Trabalho e Aposentadoria, Esther Mcvey; o secretário de Estado para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara; e a secretária de Estado britânica para o Brexit, Suella Braverman.

Caso não haja acordo até o fim de outubro, parte do Partido Trabalhista, que faz oposição à May, defende que um novo referendo seja convocado para perguntar novamente se os britânicos querem ou não deixar a União Europeia.

 

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira