Escritoras e ilustradoras conseguem ressignificar as histórias
Os contos de princesas permeiam as histórias da literatura infantil desde o início das produções de narrativas para as crianças.
Essas histórias são majoritariamente contadas pela perspectiva do que foi compreendido como feminilidade, há muito tempo atrás. Os contos acabam estimulando meninas ao comportamento dessas narrativas em que a figura da princesa traz fragilidade e dependência de um príncipe para que sua vida seja salva.
Pensando nisso, os contos da Pequena Sereia, Bela Adormecida, Rapunzel e Cinderela foram recriados por escritoras e ilustradoras convidadas pela Organização não governamental (ONG), Plan International Brasil, para inspirar meninas a serem as heroínas.
A organização criou uma edição com 4 livros intitulada “Revolução das Princesas”. Toda a renda das publicações é revertida para os projetos da Plan.
A gerente de Gênero e Incidência Política na Plan, Viviana Santiago, explica que a ideia do projeto é mostrar para as pessoas que existem outras possibilidades para as meninas, que não implicam necessariamente a saída do mundo da fantasia ou a negação do direito a sonhar.
“Não tem um problema com fantasia, com sonho, com imaginação, o problema é quais são os repertórios que vem junto desses processos. E se na verdade as meninas pudessem continuar lendo as histórias mas que elas aprendessem mais sobre suas capacidades, que isso ajudasse cada uma das meninas a perceberem que elas não tem que ser salvas no final, que elas têm capacidade de construir histórias e aportar outros finais felizes. É mais do que um movimento de princesas, porque a gente precisa de fato romper com essa lógica, o que a gente quer é uma revolução”.
A fim de incentivar as meninas a compreenderem suas forças, poderes e generosidades através da literatura, a Plan reuniu escritoras e ilustradoras para trazer um conto de fadas invertido. Com a participação das autoras Clara Averbuck, Teca Machado, Sebastiana Hoyer e Thaís Lira, as histórias foram construídas pensando na diversidade de personalidades das meninas, trazendo reflexões sobre a compreensão popular dos conto de fadas.
A escritora e jornalista Teca Machado, foi quem escreveu a história da Rapunzel. Teca fala da importância de recriar narrativas como as da princesa com longos cabelos, por exemplo, que fica presa no alto de uma torre durante toda a vida a espera do príncipe encantado para salvá-la.
"Eu cresci com a Disney, com as princesas e eu sempre gostei muito delas, mas sempre ficava com a sensação de não entender o porque elas estavam fazendo aquilo, então quando começou a conversa sobre a Revolução das Princesas, eu pensei que essa seria minha chance de transformar as princesas, deixar que elas não precisem de um homem para serem salvas, elas podem salvar a si mesmas e ainda salvar o reino, salvar os homens e tudo que for. Eu cheguei a conversar com outras crianças, mostrei a história e todas pensaram que o novo conto é muito diferente, pois nunca pensaram que a Rapunzel poderia salvar o príncipe, eu sempre achei que fosse ele".
Coleção Revolução das Princesas | Monique Larentis
A série a Revolução das Princesas conta com ilustrações inspiradas em meninas brasileiras, com diversidade racial, cultural e com características distintas uma das outras, potencializando a coragem de forma individual.
As ilustradoras Lorena de Paula, Natália Lima, Suryara Bernardi e Lorena Giostri deram forma às histórias das princesas. Artista responsável por refazer a versão moderna de Cinderela, Suryara desenhou a história da princesa mundialmente conhecida como “Gata borralheira”, que teve a versão escrita por Thaís Lira. A ilustradora conta as dificuldades de recriar a visão de uma das princesas mais famosas e queridas pelas crianças.
"É um caminho muito difícil, porque você tem que romper com valores sociais que são jogados e impostos, impregnados na nossa cabeça. A Cinderela, nessa visão de que ela tem que ficar em casa, limpando a casa e tudo mais e que ela só tem seu valor a partir do momento que ela toma um banho de loja sempre me incomodou muito e poder reverter o papel dela e fazer com que ela seja agente do seu próprio caminho e ela ainda resgatando o príncipe foi muito interessante pra mim"
“Nessas histórias tradicionais, os príncipes são sempre os heróis”. “Princesas nunca fazem nada, são frágeis e fracas”. Essas frases são de meninas e meninos na faixa dos sete anos, ouvidos pela Plan International Brasil. Segundo a organização, as percepções dos pequenos refletem o que crescem ouvindo.
Nessas versões modernas, as princesas não são nada indefesas. São heroínas fortes e corajosas que montam em seus cavalos, lutam contra bruxas e dragões e salvam príncipes que agora precisam de ajuda.
Edição: Michele Carvalho