Integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile entende que os principais impactados pelos cortes na educação serão os residentes no campo. Para ele, o atual governo não tem compromisso com nenhum nível da educação pública brasileira. Por isso, iniciativas como o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) são alvos prioritários.
O dirigente falou ao Brasil de Fato RN durante a missa de inauguração da capela Nossa Senhora Aparecida e da Bodega da Reforma Agrária, ocorrida na última sexta-feira (31) no município de São Miguel do Gostoso, no Litoral Norte do Rio Grande do Norte. Na ocasião, Stedile também avaliou as manifestações ocorridas contra e a favor do governo e comentou as perspectivas do movimento em um cenário de sonegação de direitos.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: Qual a importância da inauguração da bodega da Reforma Agrária? O que ela representa?
João Pedro Stédile: Eu acho que a atividade realizada aqui neste espaço, o antigo Acampamento Maria Aparecida, foi muito importante para trazermos a solidariedade de pessoas de todo o RN, de diversas personalidades e, sobretudo, do arcebispo Dom Jaime. Isso não é apenas inaugurar uma capela, é também selar um compromisso do trabalho pastoral da igreja católica com os trabalhadores.
Como você avalia os cortes na educação?
Esse governo é irresponsável, estão cortando todos os direitos da classe trabalhadora, para, na visão deles, “reduzir o máximo custo da mão de obra”. Os trabalhadores não têm mais direito à educação, saúde, moradia e reforma agrária, o governo quer transformar esses serviços públicos em meras mercadorias, onde só tem direito a acessá-los quem tem dinheiro. Então, na educação é da mesma forma. Foi como disse o professor Paulo Arantes: “depois do corte, é a privatização da educação”.
E como esses cortes podem afetar os programas de educação no campo?
O que está em jogo é que eles não querem a educação pública em nenhum nível, nem no ensino médio, nem no ensino superior e nem na pós-graduação e, evidentemente, os trabalhadores rurais que, no governo Lula e Dilma tinham acesso à universidade pelo Pronera, foram os primeiros a serem cortados e assim será feito com outros programas da educação básica.
Qual a sua avaliação sobre as manifestações do dia 30?
Estamos num processo em que a disputa ideológica será dada nas ruas. Nós fizemos uma gigantesca manifestação dia 15, que pegou a burguesia de surpresa, pois eles não esperavam tanta gente. Inclusive, eu soube que em Natal (RN) ocorreu uma das maiores mobilizações. Eles tentaram dar o troco, com o dia 26, mas foi um fracasso. As duas cidades que compareceram mais pessoas foram em São Paulo, com 50 mil, e no Rio de Janeiro, com 20 mil, o que não é nada. Portanto, quem esteve às ruas no dia 26 foi apenas a classe média, de alta renda e racista, que já vinham se manifestando com pautas reacionárias desde a campanha presidencial. Então, o apoio ao governo se reduziu aquele núcleo ideológico chamado de bolsonarista, e se perdeu a uma base social que votou nele.
Agora, no dia 30, nós tínhamos uma expectativa de poder dar o troco, mas a conjuntura mudou de uma cidade a outra. Em algumas, diminuiu o número de pessoas, mas em outras aumentou, como em São Paulo e Rio de Janeiro, de modo que a disputa das ruas nós ganhamos.
As mobilizações, da juventude e dos professores, nos dão ânimo para uma Greve Geral, de fato, no dia 14. A classe trabalhadora precisa se mexer e parar o trabalho, a produção, a circulação de pessoas e mercadoria, para que os capitalistas, que são os donos desse governo, saibam que se continuarem a retirar direito, a classe trabalhadora não vai aceitar.
Edição: Marcos Barbosa