Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (4) que não irão mais permitir que cidadãos façam viagens em grupo a Cuba. A restrição, que visa afetar a economia do turismo e o ingresso de dólares na ilha, atinge excursões culturais e educacionais.
“Cuba continua a desempenhar um papel desestabilizador no Hemisfério Ocidental, fornecendo uma plataforma comunista na região e apoiando adversários dos EUA em lugares como Venezuela e Nicarágua, fomentando a instabilidade, minando o estado de direito e suprimindo os processos democráticos”, afirmou o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin.
Em comunicado, ele argumentou que a decisão é estratégica e visa reverter o relaxamento das sanções e restrições a Cuba, colocadas em prática durante a administração do ex-presidente Barack Obama. “Essas ações vão ajudar a manter os dólares americanos fora do alcance dos serviços militares, de Inteligência e de segurança cubanos”, destacou.
A restrição é o mais novo capítulo das recentes ofensivas estadunidenses contra ilha. A reaproximação diplomática entre os países, levada a cabo durante a gestão Obama, começou a ruir desde que Donald Trump assumiu a presidência.
A evidência mais clara da nova ofensiva contra a ilha aconteceu em abril deste ano, quando o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a aplicação, de modo inédito, do Título III da Lei Helms-Burton, de 1996. A cláusula permite que cidadãos estadunidenses abram processos judiciais contra empresas instaladas em propriedades expropriadas pelo governo cubano após a revolução de 1959.
A Lei estadunidense autoriza que o presidente escolha, a cada seis meses, se irá habilitar ou não o Título III. Como todas as administrações antes de Trump optaram por ignorar a medida, será a primeira vez em mais de 20 anos que a cláusula passará a valer.
Cálculos feitos pela agência Reuters indicam que a ativação do Título III poderá desencadear cerca de 200 mil processos, o que trará impactos negativos tanto ao país caribenho quanto a empresas estrangeiras que atuam em Cuba.
Turismo
Durante gestão Obama, os EUA restabeleceram relações diplomáticas com Cuba, reabrindo a embaixada em Havana e retirando as restrições para viagens de cidadãos norte-americanos ao país.
De lá para cá o número de turistas norte-americanos em Cuba aumentou exponencialmente: 50% em 2016 e 150% em 2017, segundo dados do Ministério do Turismo cubano.
Com Trump, a política mudou. Em setembro de 2017, os EUA acusaram Cuba de ter promovido um ataque com armas sônicas contra representantes diplomáticos dos EUA baseados em Havana. A acusação serviu como justificativa para que Washington retirasse a maior parte do corpo diplomático que atuava na ilha.
Na ocasião, o governo dos EUA também anunciou que começaria a suspender a emissão de vistos e passou a recomendar que cidadãos norte-americanos parassem de viajar ao país.
A tese de que houve um ataque sônico foi contestada tanto pelo FBI quanto por cientistas independentes que investigaram o caso.
Asfixia
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, rebateu as sanções e afirmou que “Cuba não se deixará amedrontar nem distrair com novas ameaças e restrições. Não puderam nos asfixiar. Não poderão nos deter”.
Já o ministro das Relações Exteriores da ilha, Bruno Rodríguez, disse no Twitter rechaçar “energicamente" as medidas que "endurecem o bloqueio” contra o país.
Edição: João Paulo Soares