VENEZUELA

Fracasso do golpe acentua racha da oposição a Maduro

Secretário de Estado dos EUA afirmou, segundo áudio vazado, que tentativa de unir opositores é "diabolicamente difícil"

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, perde força política na liderança da oposição
Deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, perde força política na liderança da oposição - Foto: Sputnik/Leo Alvarez

Depois do fracasso do golpe de Estado contra o governo de Nicolás Maduro, em 30 de abril, líderes e porta-vozes opositores venezuelanos falam publicamente sobre suas divergências e as disputas no interior dos partidos. Esta semana o cientista político opositor Guillermo Carrasquero criticou a política de sanções econômicas contra a Venezuela, defendida por líderes da oposição.

“Eu não aceito essa política de sanções, não podem matar o povo de fome”. A declaração foi feita durante uma discussão com a apresentadora de televisão venezuelana Carla Angola, declaradamente alinhada ao discurso oposicionista, durante seu programa de televisão em um canal de Miami.

O ex-deputado Julio Borges, do Partido Primeiro Justiça, discordou publicamente do líder opositor Juan Guaidó em relação à decisão do partido deste último e do dirigente Leopoldo López de negociar com o governo de Nicolás Maduro, em Oslo, na Noruega. "Sou totalmente contra", disse Borges em sua conta do Twitter.

Por sua parte, o ex-candidato à presidência e ex-governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, correligionário de Borges, falava sobre as divisões da oposição antes mesmo da tentativa de golpe. Cerca de dez dias antes, afirmou estar “preocupado com as iniciativas de um grupo que estava estimulando fraturas dentro da coalizão política opositora”. E acusou um setor da oposição de “usar o povo como bucha de canhão”.

Além disso, as declarações dos aliados estrangeiros de Juan Guaidó, nessa quinta-feira (6), deixam em evidência que resultou “diabolicamente difícil” para os Estados Unidos manter a oposição venezuelana unida, segundo palavras do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.

O chefe da diplomacia estadunidense reconhece também que a liderança de Guaidó “continua sendo tênue”. As declarações vieram a público por um áudio “vazado” e publicado pelo jornal Washington Post. Pompeo criticou o fato de ter “mais de 40 pessoas” querendo ser o novo líder opositor.

Já o encarregado de assuntos da Venezuela no governo de Donald Trump, Elliott Abrams, afirmou que "a busca por protagonismo em meio a uma situação tão grave é prejudicial". O funcionário disse ainda que os venezuelanos “devem resolver por meio de eleições livres e justas” os problemas de seu país. Além disso, Abrams sugeriu aos deputados chavistas voltarem a atuar na Assembleia Nacional, de maioria opositora. As afirmações foram feitas em um artigo de opinião publicado pelo jornal Miami Herald.

Os países do Grupo de Lima também suavizaram o discurso contra o governo venezuelano, durante uma reunião realizada nessa quinta-feira, na Guatemala. Na declaração final da reunião, os chanceleres defenderam uma “solução pacífica” e que a saída para a crise política venezuelana venha dos próprios venezuelanos.

O chanceler peruano, Nestor Popolizio, revelou que representantes do Grupo de Lima e do Grupo Internacional de Contato, conformado por países europeus, se reuniram em Nova York, na segunda-feira (10), e as partes concordaram em coordenar diálogos com países, como Rússia, China, Cuba e Turquia, que apoiam o governo Maduro, para tentar promover uma transição e eleições na Venezuela.

Rússia e China pedem mais diálogo

Os presidentes da China, Xi Jinping, e da  Rússia, Vladimir Putin, emitiram uma declaração conjunta, também na quinta, pedindo diálogo político na Venezuela. Os líderes voltaram a rejeitar uma possível intervenção militar para derrubar Maduro.

Antes, o Kremlin e os representantes da China haviam divulgado comunicado conjunto, afirmando: "Acompanhamos de perto o desenvolvimento dos eventos na Venezuela e pedimos a todas as partes que cumpram a Carta das Nações Unidas (ONU), bem como as regras do direito internacional e as relações entre os Estados", dizia o documento.

Putin e Xi Jinping também expressaram sua intenção de continuar realizando consultas sobre a América Latina e fortalecer os contatos e a interação para aprofundar as relações com os países da região.

Edição: João Paulo Soares