Fernando Haddad saiu da eleição presidencial de 2018 com um capital político de 47 milhões de votos. Ele descarta candidatar-se novamente a prefeito de São Paulo. “Adorei governar a cidade, me propus a um novo mandato. As coisas não voltam. A vida anda mesmo. Tem gente com vontade, com disposição de ser prefeito, no campo de centro-esquerda”, afirma o ex-ministro da Educação.
Em conversa com o jornalista Juca Kfouri, no programa Entre Vistas, da TVT, Haddad falou sobre riscos à democracia, inaptidão de Jair Bolsonaro, denúncias sobre o governo, políticas educacionais, Paulo Freire, Lula e Ciro Gomes. Sobre planos, o também professor disse que neste momento pretende “rodar o país”, levando a mensagem da reconstrução do que está se perdendo.
Para Haddad, parte da sociedade já saiu do “luto” em meio ao processo histórico pelo qual passa o Brasil e voltou às ruas. Ele procurou mostrar otimismo ao falar sobre a possibilidade de o país voltar a um certo caminho virtuoso. “Vamos superar isso. O que temos de lutar pra fazer é abreviar esse processo. Nenhum país que deu muito certo não passou por momentos dolorosos”, afirmou. “E geralmente esses momentos precederam as fases de maior prosperidade.”
“Com algum tipo de ruptura?”, quer saber Juca, lembrando dos próprios exemplos dados pelo entrevistado, sobre França e Estados Unidos. “Essa ruptura tem de vir pela democracia, pela consciência”, responde o ex-prefeito e ex-ministro, entrevistado também pelas estudantes Isis Mustafá (Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC) e Rebeca Santana (Direito no Mackenzie), esta beneficiária do Programa Universidade para Todos (ProUni), criado em 2004 e tornado lei no ano seguinte.
“Tem gente ainda de luto. Tem gente que saiu do luto e está na rua, na luta”, diz o ex-candidato, para quem a sociedade não permitirá que se governe por decretos. Tema de dois protestos de vulto, em 15 e 30 de maio, a Educação dominou boa parte da entrevista de Haddad, que na última terça-feira (4) se reuniu com outros ex-ministros da área (Aloizio Mercadante, Cristovam Buarque, José Goldemberg, Murílio Hingel e Renato Janine Ribeiro).
Ao final do encontro, no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), eles divulgaram uma nota “de alerta ao país”, sobre os riscos causados pelo comportamento do governo, que segundo o documento atua de forma sectária”, sem preocupação com a melhoria de qualidade e igualdade de oportunidades. Ressaltaram que o movimento pela educação foi um fator de unidade em tempos recentes.
Mandato vai até o fim?
“A sociedade brasileira tomou consciência da importância dela no mundo contemporâneo. Numa palavra, a educação se tornou a grande esperança, a grande promessa da nacionalidade e da democracia. Com espanto, porém, vemos que, no atual governo, ela é apresentada como ameaça”, lamentam os ex-ministros.
Na entrevista, Haddad observa que o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), “o maior já criado no país, governo Lula”, expira em 2020. “Dá impressão que o governo não sabe disso, porque não se move”.
Haddad observa que não é o primeiro caso de reunião entre ex-ministros apreensivos com os rumos do país. Já aconteceu no caso do meio ambiente, e também nesta terça um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo expunha preocupações de autoridades na área de Justiça e segurança pública.
Diante de “tal estágio de loucura”, como define, o apresentador do Entre Vistas quer saber do convidado se o governo Bolsonaro chegará ao fim de seu mandato. Haddad responde com cautela, lembrando que existem apenas duas maneiras para que isso aconteça: impeachment por crime de responsabilidade ou renúncia. “Não existe outra hipótese. Se a gente sair da legalidade, vamos entrar numa aventura”, afirma, para emendar: “Entendo que a sociedade tem de se organizar para defender o país”.
Segundo ele, o Brasil enfrenta sérios problemas em pelo menos seis áreas: relações exteriores, direitos humanos, educação, segurança pública, meio ambiente e economia. E no poder está “uma pessoa que teve 30 anos para se preparar para alguma coisa”, mas vive dizendo que não está preparado para a Presidência da República. Haddad diz considerar “muito grave” o fato de o atual presidente ter “dificuldade” até para sair de Brasília, pois é sempre alvo de protestos. E há pouco tempo não conseguiu receber uma homenagem em Nova York, sendo criticado até pelo prefeito da metrópole que o petista chama de uma das capitais do mundo.
Clique aqui para assistir a íntegra da entrevista à TVT.
Edição: João Paulo Soares