Movimentos populares e sindicais do campo e ambientalistas reafirmam o compromisso com bandeiras históricas em defesa das políticas agrárias e socioambientais de Estado, dos territórios tradicionais e da soberania alimentar em uma plataforma unitária lançada neste sábado (8), no ato político de encerramento do Seminário Terra e Território: Diversidade e Lutas.
A atividade aconteceu entre os dias 6 e 8 de junho na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). Segundo o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), o documento será entregue ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, na próxima terça-feira (11).
Um dos presentes no ato político de encerramento do encontro foi Fernando Haddad, ex-ministro da Educação (2005-2012). Ele destacou a importância da unidade das forças progressistas para lutar pela democratização do acesso à terra no Brasil, ainda que em um momento adverso.
“Jair Bolsonaro, mesmo muito antes da eleição, não tem nenhum compromisso com a agenda de desenvolvimento sustentável”, defendeu o petista, que nas eleições de 2018 representou o PT na corrida eleitoral e disputou o segundo turno com o atual presidente. “Nós temos uma agenda para levar à frente a questão fundiária no Brasil e sabemos como traduzir essas aspirações em ações práticas para levar bem-estar para o povo mais sofrido”, completou.
Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), também compôs a mesa de encerramento do encontro. Ousadia para debater alternativas e construir um novo modelo de desenvolvimento para o país são os dois principais desafios levantados por ele.
“Nós precisamos de um outro modelo, que coloque a vida acima do lucro, que não vá repetir tragédias como a de Mariana e de Brumadinho, que não dê todo poder ao agronegócio para envenenar nossa comida e nossos rios”, exemplificou a liderança do MTST. “É preciso discutir um modelo em que não seja a sociedade que sirva à economia e ao lucro de meia dúzia de pessoas, mas sim a economia que sirva à sociedade”, finalizou.
Em sua participação, Carmem Foro, vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e agricultora familiar, lembrou que as políticas governamentais atingem os territórios brasileiros e seus povos de diferentes formas.
“Nós somos realmente muito diversos e, dependendo de onde viermos, o ataque é maior. Se eu sou negra e quilombola, o ataque é de um jeito. Se sou jovem, moro no Norte ou no Sul, o ataque é outro. Eles decidiram nos matar, nós decidimos viver e resistir”, defende a sindicalista.
Foro também pontuou a defesa da reforma agrária e o diálogo do campo com a cidade. “É preciso dialogar com a cidade para mostrar que o rural é maior do que se imagina. Pelos dados do IBGE, é bem pequeno. Pela vida real, é muito grande. Não há como pensar o país estrategicamente sem pensar os sujeitos do campo brasileiro”
Chico Gonçalves, representante do governo do Maranhão, destacou a importância da resistência democrática para enfrentar a disputa por um projeto de nação.
“A gente enfrenta um governo que se caracteriza pela politica da morte. É importante lembrar que a defesa da dignidade da vida humana está escrita na Constituição brasileira. No momento em que a vida das pessoas está em jogo, não podemos ter dúvida da necessidade de demarcar nossas diferenças, mas privilegiar nossas confluências”, defendeu.
A mesa de encerramento também foi composta pelos deputados federais Orlando Silva (PCdoB) e Paulo Teixeira (PT); Julio César, secretário de agricultura familiar do Maranhão; e Adilson Araújo, da Central dos Trabalhadores Brasileiros (CTB).
Ao lado do povo
No ato político também foi divulgada a Carta da Terra, Território, Diversidade e Lutas. Direcionada ao povo brasileiro, ela reafirma o compromisso das entidades e lideranças políticas presentes em defesa dos direitos sociais da população.
O documento chama os brasileiros e as brasileiras a participarem das próximas duas mobilizações populares organizadas para o período: a Greve Geral contra a reforma da Previdência, marcada para 14 de junho, e a Marcha das Margaridas, em 13 e 14 de agosto.
A carta defende o fim das privatizações dos serviços públicos e a garantia da aposentadoria e benefícios de proteção social como formas de combate à desigualdade e à pobreza.
Eles denunciam ainda o controle e apropriação das terras, água, biodiversidade, minérios e petróleos por grandes empresas internacionais e pelo mercado financeiro, processo conhecido como estrangeirização das terras. Um exemplo disso, segundo os participantes, seria a Proposta de Emenda Constitucional apresentada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), esta semana, que visa dificultar os processos de desapropriação de terras improdutivas.
Terra e territórios
Mais de 50 organizações ligadas aos povos do campo, indígenas, ambientalistas e parlamentares participaram do encontro e da construção da plataforma e da carta. O objetivo do encontro foi diagnosticar as diferentes demandas dos povos, reuni-las e reafirmar o compromisso político de defender seus direitos. A diversidade regional se fez presente com agricultores, pescadores, quilombolas e indígenas das cinco regiões brasileiras.
Ao longo dos três dias de debate, foram abordados temas como alimentação saudável, direito dos povos aos seus territórios, desnacionalização da terra, previdência rural e a Amazônia brasileira. Todas as matérias podem ser acessadas na cobertura especial do Brasil de Fato.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso político em Curitiba (PR) há cerca de um ano e dois meses, enviou uma carta ao encontro. No documento, o petista saúda a iniciativa das organizações para a construção de alternativas de um desenvolvimento sustentável, que respeite os povos e as terras.
“Não podemos parar de pensar soluções e andar por esse país conversando com o povo sobre esse outro Brasil, sobre o respeito com que o povo e a terra brasileira merecem ser tratados por aqueles que a amam de verdade”, diz Lula em um trecho.
*Com colaboração de Katarine Flor.
Edição: Vivian Fernandes