A semana será intensa em Brasília e deve movimentar, ainda mais, as placas tectônicas no Palácio do Planalto. Após o vazamento das conversas entre o então juiz federal Sérgio Moro e a equipe da força tarefa da Lava Jato, que apontam para uma interferência do magistrado na atuação da acusação, deve ser grande a pressão para que a cadeira do ministério da Justiça fique vaga.
Ainda nesta segunda-feira (10), o PSOL deve protocolar na Câmara dos Deputados um requerimento de convocação do ministro da Justiça Sérgio Moro para que explique as acusações que as conversas vazadas pelo The Intercept Brasil suscitam. No Congresso Nacional, já se fala em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a conduta do magistrado.
Juliano Medeiros, presidente do PSOL, acredita que o ministro deve abdicar do cargo.“Está claro para nós que o Moro não tem nenhuma condição, já não tinha antes pelo impacto de suas decisões no processo eleitoral, de ser ministro da Justiça. Amanhã, temos uma reunião dos partidos e das bancadas de oposição, onde muito provavelmente o que vai se acumular é a ideia de uma movimentação pedindo a demissão do ministro da Justiça”, afirmou o psolista.
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), criticou a postura de Sérgio Moro. “Antes de mais nada, temos que chamar o ministro da Justiça para prestar esclarecimentos ao Congresso Nacional. As denúncias são de extrema gravidade porque em um Estado Democrático de Direito, é imprensável que a imparcialidade do julgador não seja mantida.”
O jornalista e fundador do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, anunciou que deve soltar mais materiais que mostram Moro como “chefe da Lava Jato”. Diante do cenário, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) não enxerga mais condições para que Moro siga no cargo.
“O ministro Sérgio Moro tem a obrigação de comparecer ao Congresso Nacional para explicar. A denúncia do Intercept revela a prática de crimes. A lei brasileira foi violada por autoridades federais. A minha impressão é que ele não reúne condições políticas para permanecer à frente do cargo”, argumenta Silva.
Feitiço contra o feiticeiro
Líder do MTST, Guilherme Boulos afirma que Sérgio Moro está “sob júdice” e por isso perdeu “as condições morais e políticas para seguir como ministro da Justiça”. “Ele não tem condição de continuar como ministro. O Dallagnol e a força tarefa da Lava Jato devem ser imediatamente investigados pelo CNJ [Conselho Nacional de Justiça], o que eles fizeram é ilegal e crime. A consequência da atuação deles, que tem no caso do Lula o mais emblemático, deve ser imediatamente anulada.”
Horas após as reportagens serem divulgadas, Sérgio Moro se manifestou reclamando do vazamento, que classifica como ilegal de suas conversas. “Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores”, afirmou o ministro.
Para Boulos, Moro é vítima de uma prática adotada por ele mesmo. “É a velha história do feitiço contra o feiticeiro. O Moro falando de privacidade e vazamento de informação, chega a ser piada. O Moro vazou uma conversa da ex-presidenta Dilma com o ex-presidente Lula, expôs centenas de conversas com familiares, filhos e esposa. Qual a autoridade do Moro para falar sobre vazamento?”, pergunta.
O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, criticou Moro e pediu a “imediata libertação de Lula”. “É importante acabar esse mito de que o Bolsonaro e a Lava Jato resolvem os problemas do Brasil. Fica claro que o caminho é soltar o Lula para que o Lula retome o desenvolvimento do Brasil.”
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira