O ex-chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Jesús Santrich assumiu nesta terça-feira (11) um dos postos na Câmara dos Deputados da Colômbia. A medida ocorre em cumprimento aos acordos de paz entre o governo do país latino-americano e as Farc, guerrilha transformada em partido político.
Santrich, de 52 anos, assumiu seu assento na Câmara baixa colombiana em um ato discreto, realizado na sede do Legislativo em Bogotá, capital do país. Após a posse, o ex-guerrilheiro afirmou à imprensa que a medida representa “um novo passo na luta e na defesa da paz para a Colômbia”.
O agora parlamentar já deveria ter assumido o cargo no ano passado. No entanto, ele estava preso desde 9 de abril de 2018, acusado por um tribunal de Nova York de tentar enviar drogas para os Estados Unidos.
O ex-guerrilheiro afirma que as acusações fazem parte de um complô entre a promotoria colombiana e Washington. A Justiça norte-americana chegou a pedir sua extradição, mas a Corte Suprema colombiana decidiu por soltá-lo.
A Farc denuncia o episódio, que classifica de "montagem judicial", como parte da manobra da direita colombiana para deslegitimar o acordo de paz e impedir o ingresso da guerrilha na vida civil.
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O presidente da Colômbia, Iván Duque, eleito pelo partido de extrema direita do ex-presidente Álvaro Uribe Vélez e crítico do acordo de paz, chamou o ex-guerrilheiro de “mafioso” e pediu que a Procuradoria Geral do país suspenda imediatamente as funções legislativas de Santrich.
“Ver um mafioso chegar e zombar da sociedade colombiana, isso não me parece ser apenas inadmissível como também deveria servir de motivação para que todos exijam que a justiça seja feita”, declarou o mandatário.
A Farc afirma que o presidente da Câmara, Alejandro Chacón, também levantou inúmeros empecilhos para que Santrich assumisse o cargo. Embora ele tenha sido empossado, a medida é simbólica, já que a legislatura atual da Colômbia termina no dia 20 de junho.
Acordo de paz
Santrich foi um dos principais nomes das negociações de paz entre Farc e governo colombiano, além de atuar na comissão responsável por implementar o termos do acordo, assinado em 2016, após quatro anos de negociações, prometia inaugurar uma nova era de garantias democráticas no país.
Guerrilheiros das Farc, como parte do acordo, deixaram as armas e ingressaram na vida civil. A partir de 2017, a organização passou a se chamar Força Alternativa Revolucionária do Comum, ocupando, desde 2018, dez cadeiras no Congresso Nacional.
Foram mais de 50 anos de conflito armado na Colômbia, resultado de uma disputa desigual pela terra, em um país em que 1% da população concentra mais da metade das propriedades rurais.
Pelo menos 180 mil civis foram assassinados em decorrência da guerra interna. Um em cada dez colombianos teve de deixar sua casa por conta da violência, somando quase 5 milhões de deslocamentos forçados, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
O fim do conflito e a garantia de participação política são, no entanto, apenas dois dos seis eixos pactuados entre o movimento guerrilheiro e o governo colombiano, em um acordo de 324 páginas. O documento também prevê iniciativas para a substituição dos cultivos ilícitos, a reforma agrária integral e políticas de reparação para as vítimas do conflito armado.
O sexto e último ponto trata da implementação do acordo. O governo de extrema direita de Iván Duque, que sucedeu Juan Manuel Santos – quem assinou o acordo com esta guerrilha – na presidência, porém, já se declarou contra a maior parte dos pontos pactuados.
Edição: Rodrigo Chagas