A festa de Parintins associa-se com as figuras dos bois Caprichoso e Garantido
“Recriando fazeres e saberes antigos a perpetuar
esse brado que eclode no tambor do meu mais velho avô, pulsa a ecoar
revolução de um povo que ergue sua bandeira na festa do meu boi-bumbá.
Viva a revolução dos povos da floresta que bradam em arte e poesia os anseios de um novo amanhã.
Viva o boi-bumbá caprichoso.”
É com essas palavras que o apresentador Edmundo Oran deu início à edição do Festival Folclórico de Parintins de 2018.
A festa popular da região Norte do Brasil realiza anualmente, no último fim de semana de junho, em Parintins, no Amazonas, uma apresentação a céu aberto no Bumbódramo, uma espécie de sambódromo e estádio do município. Os festejos são marcados pela diversidade da cultura brasileira, que tem como base elementos das culturas indígena, africana e européia.
Segundo Antonio Mateus Soares, sociólogo e professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, geralmente, quando falamos de tradição, nos referirmos a algo que passou. No entanto, ele explica que ela vem do passado, trás seus elementos e os fazem permanecer no presente, característica marcante das apresentações do Festival de Parintins, que possui um forte apelo à tradição, ao folclore e a natureza.
“O Norte, através da festa de Parintins e da dualização de dois bois é algo criado, uma invenção instituída pela regionalidade e pela identidade local e associada a uma representação da natureza empírica e dos indígenas, então há uma originalidade genuína. A festa de Parintins está associada com as figuras da natureza, do boi. Cada um representado por uma cor: vermelho e azul. Essa competição através da cultura, da força, da expressão remontam a identidade brasileira e a diversidade dessa sociedade que é híbrida e é constituída por esses elementos que se reprocessam. Se percebe que a cultura portuguesa chega aqui e é reprocessada. O Norte reelabora a sua cultura através da festa buscando elementos de sua raiz”, diz.
O sociólogo explica que o Festival Folclórico de Parintins tem uma identidade mais endógena do Norte brasileiro, ou seja, enquanto as festas juninas são originárias de uma tradição portuguesa que foi reprocessada e se apresentou no Nordeste brasileiro, a festa de Parintins surge a partir das práticas da população ribeirinha e da cultura indígena.
O festival, que em 2019 realiza sua edição de número 54, representa a história dos bois: Garantido e Caprichoso. Em 1966, pela primeira vez, os dois animais participaram juntos dos festejos. Naquela época, o critério estabelecido para definir o campeão foi o boi mais aplaudido pelos presentes.
A historiadora da Unicamp e Diretora do Instituto Histórico de Campinas, Eliane Morelli Abrahão, conta que a tradição surge da lenda da Mãe Catirina e do Pai Francisco, um casal de escravos. Catirina estava grávida e desejava comer a língua de um boi, foi quando seu companheiro matou o melhor boi de seu patrão. Na tentativa de salvar seu animal, o patrão traz um médico para ressuscitá-lo. Eliane explica a origem da festa de Parintins no estado do Amazonas.
“A importância dessa festa é a manutenção de tradições de uma prática cultural. É uma festa que foi incorporada ao nosso cotidiano anual. Teve sua origem quando os portugueses chegam aqui e se deparam com alguns rituais indígenas e há uma incorporação desses práticas para essas festas religiosas. Era uma festa popular, de rua que ia de casa em casa representando a lenda da Mãe Catirina e do Pai Francisco. Era representado a morte do boi, depois sua ressuscitação e em torno desse casal vai sendo incorporado e se torna uma festa Amazônica. Parintins se torna conhecida por conta de seu festival, mas originou-se dessas festinhas que eram feitas nas ruas, nos quintais das casas para se tornar um grande festival de folclore no Amazonas”.
Daniel Sicsu, Subsecretário de Comunicação da Prefeitura de Parintins explica que a disputa entre os bois Caprichoso e Garantido são as atrações principais e além deles, o festival traz também os bois mirins, as quadrilhas e os grupos de danças variadas.
Neste ano, o festival acontece nos dias 28, 29 e 30 de junho. Segundo o subsecretário, a festa espera receber 100 mil pessoas.
O festival é muito importante para a cidade porque movimenta a economia local, algo em torno de 80 milhões de reais, segundo a prefeitura de Parintins, gerando cerca 3 mil empregos diretos e indiretos.
Edição: Michele Carvalho