A cantora e compositora Tulipa Ruiz trouxe seu show para a terceira edição do 'Brasis no Paiol 2019', nesta quinta-feira (13), em Curitiba. Segundo ela, o momento é de "amalgamar todos os álbuns". "Eu trouxe um show elétrico, pois estou num momento mais elétrica". Seu último álbum “TU”, reflete uma fase mais reflexiva da artista. Traz regravações e novas músicas, com uma sonoridade diferente dos outros álbuns. “Em um momento no qual a tecnologia nos dispersa e a overdose de informação nos sobrecarrega, quis fazer um disco mais íntimo, mais próximo, mais cru”, explica.
Participam do disco seu irmão, o violonista Gustavo Ruiz; e o percussionista Stéphane San Juan. Os dois assinam a produção. O canadense Scotty Hard foi o engenheiro de som e gravou as músicas em seu estúdio, em Nova York. “TU” é o quarto disco de Tulipa Ruiz, lançado digitalmente em 2017. Antes dele, vieram “Efêmera” (2010), “Tudo Tanto” (2012) e “Dancê” (2015). Em 2015, faturou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro.
Em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato Paraná, falou sobre como ser artista na atual conjuntura política e a força das pautas feministas na consolidação do trabalho das mulheres nas artes e em todos os setores. Tulipa também refletiu sobre a cidade de Curitiba e suas contradições.
Confira a entrevista:
Qual a ideia que te inspirou para dar o nome do seu último álbum “TU” e o que ele traz de diferente dos anteriores?
Meu último disco, o “TU”, seria um disco só de regravações. Fui para o estúdio com meu irmão, o Gustavo Ruiz e ficamos empolgados no processo de gravação e músicas novas aconteceram. Esse disco veio de uma necessidade de respirar, de pensar na presença. E o nome "TU" tens a ver comigo, pois é a primeira silaba do meu nome. Veio também de um exercício de além de autoconhecimento, mas também de alteridade. Ela é o começo do meu nome, mas também quer dizer você. Ou seja, o outro. Um disco então que veio seguido de uma série de outros com muitas informações e ele é para respirar.
Pensando nessa pauta que o disco traz, de pensar no outro, você nunca deixou de se posicionar politicamente. Como você tem se visto nesta atual conjuntura?
É preciso mais do que nunca se pautar pela arte na política. Ainda mais com essa overdose, esse colesterol alto nas narrativas: é em primeiro lugar importante se informar a partir dos veículos que realmente acreditamos, mais veículos alternativos, mas sobretudo se pautar pela vida da arte. Neste momento que a gente se vê tão ameaçado, arte é algo que tem nos fortalecido demais.
De que forma que arte pode nos ajudar nessa disputa de narrativas?
A arte lida com as nossas subjetividades. E é isso justamente que fica em xeque nesse momento. As pessoas não avaliam nem dialogam com a nossa subjetividade, elas não são colocadas como direitos nossos. A arte lida diretamente com isso, se relaciona com a camada mais humana. A arte me salva.
De um lado temos retrocesso e de outras pautas sendo fortalecidas, como as feministas. De que forma elas se colocam na sua trajetória e trabalho?
Quando eu comecei a trabalhar, tocar em festivais, tinha pouca mulher, por exemplo, na técnica, na equipe de produção, etc. Nós temos mulher como intérpretes, cantoras, mas é preciso ver mulheres na criação, na técnica e eu tenho visto isso aumentar.
Portanto, esse entendimento do feminino dentro de nós, amplifica nossa voz. A gente está conseguindo falar e conseguindo se ouvir. Isso se reflete muito na nossa produção autoral. Uma das consequências maravilhosas deste entendimento do feminismo dentro da gente somos nós compondo sem parar.
Para finalizar, Curitiba é essa cidade inserida atualmente no cenário político e também a cidade de Leminski e tantos outros artistas importantes. Gostaria que você escolhesse uma música para essa Curitiba:
No caminho para cá, foi muita reflexão sobre Curitiba. Que coisa mais yin yang essa cidade. Que tem aqui nosso Lula Livre preso e a cidade que tem o Moro, que é esse cara que está se provando a cada framing desse filme, o quanto ele é contraditório. Ao mesmo tempo uma cidade que tem este teatro, o Paiol. Que coisa impressionante, que lugar importante que é Curitiba na identidade nacional. Eu cresci lendo Paulo Leminski e muito ligada na cena artística daqui. Curitiba é um lugar de muita força. E nesse momento de apocalipse/nova era, vai sair muita coisa nutritiva daqui. Eu ofereço a minha música que se chama “Algo maior”
Algo Maior
Tá pra nascer algo maior
Que vá tirar do lugar as coisas
Que cismam em não andar
Tá pra nascer algo maior
Que tudo o que você já viu, leu, sentiu, soube ou ouviu
Não sinta medo e nem dó
De ser feliz e se soltar
De saber bem o que lhe convém
Tá pra nascer quem viva só
Pois de me, myself and I
Já basta eu, você e nada mais
Não se apavore haja o que houver
Siga atentamente as instruções vide bula atrás
Tá pra nascer algo entre nós
Que pode trazer consequências irreversíveis, perturbar
Sim vai chover, vai ser melhor chuva, chuva
Chuva que só troveja mas não cai.
Edição: Franciele Petry