Coluna

Cortes enterram a pós-graduação no Brasil

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Este governo deixa claro que educação deve ser apenas para quem pode pagar
Este governo deixa claro que educação deve ser apenas para quem pode pagar - Agência Brasil
Há toda uma estrutura da instituição que não conseguirá se manter

Depois de alguns meses afastado, volto a escrever para o Brasil de Fato. O que começou como um desafio, passou a ser também um exercício cotidiano de tentar condensar, em alguns parágrafos, muito do nosso dia-a-dia. O que talvez eu não imaginasse é que aconteceria tanta coisa durante estes poucos meses sem escrever. O Brasil entrou numa bagunça tão gigante que parece que não escrevo há mais de 1 ano, tantos são os assuntos que merecem ser ressaltados e discutidos.
Meu breve afastamento se deu por questões acadêmicas. Além de minhas funções como médico da família e como professor universitário, acumulei a execução do meu mestrado. Então, imaginem como ficou minha cabeça neste período, especialmente nos últimos meses. E isso me vem à tona agora porque tem muito a ver com um dos vários ataques do governo Bolsonaro ao povo brasileiro.
Um deles são os cortes na educação em todos os níveis. E, no meio destes, está a de milhares de bolsas de mestrado e doutorado em instituições de todo o Brasil. Olhando de fora, falar em cortes de bolsas na pós-graduação pode até parecer algo distante do dia-a-dia do povo brasileiro. Mas, na realidade, não é. E é neste ponto que retomo minha vivência dos últimos 2 anos.
O mestrado que acabei de finalizar foi na área de Saúde da Família e o foco foi no estudo do aumento dos casos de Sífilis em gestantes no município em que resido e trabalho. Posso adiantar para vocês que chegamos a resultados bem interessantes que me ajudaram a entender onde acontecem falhas no cuidado do pré-natal e como podemos atuar para melhorar esses índices. Mais do que isso, aproveitaremos os dados para gerar oficinas que levem mais informação para profissionais e para a população.
Porém, tive a oportunidade de participar de um mestrado que já não previa bolsas de estudo. Mas, quantas centenas e milhares de outros profissionais deixarão de estudar a nossa realidade por falta destas bolsas? Tantos são os problemas que não poderão ser estudados, como a sífilis no meu caso, porque não haverá como manter os estudos? Além dos pós-graduandos que deixam de receber bolsa, há toda uma estrutura da instituição que não conseguirá se manter sem condições adequadas.
Este governo deixa claro que educação deve ser apenas para quem pode pagar. Mas não há desenvolvimento de um povo sem educação acessível para todas e todos. Disto, não abriremos mão.

Edição: Monyse Ravenna