A relatora sobre execuções extrajudiciais da Organização das Nações Unidas (ONU), Agnes Callamard, afirmou nesta quarta-feira (19) que existem provas suficientes para responsabilizar o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, e outros altos funcionários do país, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. O documento completo será apresentado na próxima semana.
“Há provas críveis para justificar mais investigação sobre a responsabilidade individual de altos funcionários sauditas, incluindo o príncipe herdeiro", afirmou Callamard. Ainda segundo a relatora, a investigação apresenta “provas críveis suficientes sobre a responsabilidade" de bin Salman.
O relatório possui mais de 100 páginas e apresenta, entre outras coisas, gravações de conversas realizadas dentro do consulado saudita em Istambul, onde Khashoggi foi morto. O documento reuniu os últimos momentos do jornalista e ameaças direcionadas a ele. “Estamos vindo para pegar você”, afirma um dos trechos.
Os áudios registram ainda o som do que parece ser uma luta. “As avaliações das gravações realizadas por agentes de inteligência da Turquia e outros países sugerem que Khashoggi poderia ter recebido um sedativo e depois sido sufocado com um saco plástico”, afirma o relatório.
O governo da Arábia Saudita rejeitou o estudo. “Nada de novo… o documento da relatora do Conselho de Direitos Humanos contém claras contradições e alegações infundadas”, disse o ministro das Relações Exteriores Adel al-Jubeir, em seu Twitter.
A relatora Callamard afirmou que ainda é necessário realizar uma investigação mais aprofundada sobre o caso. O documento, no entanto, defende não haver dúvidas sobre o fato de que “Kashoggi foi vítima de uma execução deliberada e premeditada, um assassinato extrajudicial pelo qual o Estado da Arábia Saudita é responsável sob a lei internacional dos direitos humanos”.
Jornalista foi assassinado dentro de consulado
Colunista do jornal The Washington Post e crítico à monarquia saudita, Khashoggi foi assassinado e esquartejado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul em 2 de outubro de 2018. O jornalista havia ido ao local para obter documentos. Seus restos mortais nunca foram encontrados.
Segundo a relatora, o assassinato de Khashoggi “constitui um crime no qual outros Estados podem aplicar a jurisdição internacional, razão pelo qual apelo a estes que tomem as medidas necessárias”.
Após a grande repercussão em torno de sua morte, o governo saudita admitiu o assassinato, mas afirmou que havia sido um acidente. Após a intensificação das pressões internacionais, o país confirmou que o homicídio foi premeditado, no entanto, negou qualquer envolvimento do príncipe no crime.
Além de herdeiro do trono, bin Salman acumula os cargos de vice-primeiro-ministro, ministro da Defesa, presidente do Conselho de Assuntos Econômicos e de Desenvolvimento, e presidente do Conselho de Assuntos Políticos e de Segurança.
Por isso, a acusação de envolvimento no assassinato representa um duro golpe à Arábia Saudita, que tenta blindar os alto funcionários do país.
O governo saudita alega que cinco pessoas, que não foram identificadas, confessaram o assassinato. Mais tarde, foi divulgado que 11 pessoas estavam sendo julgadas pelo crime.
Edição: Rodrigo Chagas