Estudantes da Universidade Nove de Julho (Uninove) se reuniram na manhã desta quarta-feira (26) em frente à unidade Barra Funda da instituição de ensino para protestar contra o aumento da carga horária baseada em ensino à distância (EAD) e a demissão de aproximadamente 30 professores em cursos da área de humanas.
Ouvidos pela reportagem, os manifestantes argumentaram que as mudanças vão diminuir a qualidade de ensino nos cursos afetados e aprofundar um processo de precarização que já vinha ocorrendo nos últimos anos.
"Nós estamos nos organizando contra a precarização do ensino, porque a Universidade essa semana demitiu em massa professores dos cursos de Ciências Sociais, Serviço Social, História, Letras, Biomedicina. "Nossos cursos passaram a ser semi-presenciais, [mas] o valor da mensalidade ainda é de um curso presencial, e nós nos sentimos muito lesados. Quando assinamos o contrato da mensalidade, não foi informado que seria dessa forma", afirmou Tayná Wine, de 22 anos, que cursa direito na Uninove e é membro da União Estadual dos Estudantes (UEE).
No dia 28 de dezembro do ano passado, o Ministério da Educação (MEC) editou a portaria no 1.428, que permitiu às universidades públicas e privadas ampliar em até 40% a parcela das grades curriculares oferecidas à distância.
Para Estelita Florentino, estudante do curso de história na Uninove, a portaria abriu caminho para o sucateamento dos cursos: "Com essa nova portaria, eles estão acelerando a precarização. Nosso ensino sempre foi precário, na Uninove não é diferente. Só que a gente vê que hoje que eles estão acelerando essa precarização. Quando você coloca 40% de EAD, é menos professores em sala de aula, é menos aprendizado em sala de aula, e mais pela internet. É uma coisa que a gente vê que não é efetiva".
Precarização, corte de bolsas e aumento das mensalidades
Alunos ouvidos pelo Brasil de Fato também reclamaram que a Uninove tem cortando bolsas e, ao mesmo tempo, aumentado o valor de mensalidades.
"Desde o semestre passado, eles vinham tirando os professores de cena. Tinha um ambulatório da faculdade de serviço social, do qual foram retirados professores e alunos", afirmou Linda Cristina Santana, recém-formada no curso de Serviço Social.
"Além dessas modificações de agora, houve corte de bolsas do Escola da Família [programa do governo federal]", contou Marcela da Silva, atualmente no 5º semestre do curso de Serviço Social. "Eu, por exemplo, não sei como vou fazer. Eu sustento a minha casa. Tem gente da minha sala desesperado, que vai trancar porque nem com desconto vai conseguir [permanecer no curso]".
Mesmo já formada, a também estudante de Serviço Social Júlia Antonia decidiu se somar à manifestação dos alunos em frente ao seu antigo local de estudo. Como motivo, ela relata o aumento abusivo de mensalidades implementado pela universidade: "Tem gente da minha sala que pagava R$ 650 de mensalidade no sexto período. Agora [no] sétimo período, que é o último, foi para R$ 1000. A mensalidade sobe todo semestre. Mas o certo não era ser assim. No contrato que a gente tem, eles aumentariam 2%".
Contexto nacional
O diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) Iago Montalvão classificou o ato como "bem-sucedido", e relatou que mobilizações assim têm ocorrido em muitas universidades pelo país.
"O que a gente vê é que as universidade privadas vêm sendo cada vez menos regulamentadas. Com esse novo governo, existe uma predisposição a liberar que o setor privado interfira na educação a seu bel prazer", disse o estudante de economia.
"O próprio governo disse: não vamos investir em educação pública. Vamos ter liberdade do mercado, para que a iniciativa privada possa atuar. Isso faz com que essas universidades utilizem de manobras para reduzir seus custos. Uma dessas manobras é o 40% de disciplinas EAD obrigatórias. Então as universidade demitem professores e reduzem custos de aulas presenciais", concluiu ele.
Um novo ato, dessa vez em frente à reitoria da Uninove, na unidade Vergueiro, deve ocorrer nos próximos dias, mas não tem data marcada.
Edição: Rodrigo Chagas