Passada a 23ª edição da maior parada LGBT do mundo os olhares voltam-se para o território que cada LGBT retorna depois do evento. Foram mais de três milhões de pessoas de várias partes do mundo lotando a Avenida Paulista, em São Paulo, para dessa vez não só lutar por novos direitos, mas garantir a permanência dos já adquiridos.
No Rio Grande do Norte, aconteceu a primeira pesquisa qualitativa feita com LGBTs no país, uma espécie de censo dessa população. A pesquisa procurou chamar a atenção do IBGE e do IPEA para atualizarem seus cadastros e quantificarem, durante a execução do censo oficial, respostas para obter dados de LGBTs no país.
A pesquisa foi realizada em 2017 por um grupo de estudantes do curso de Geografia do Instituto Federal do RN (IFRN), juntamente com a Universidade Federal do RN (UFRN). Os alunos foram orientados pela professora Maria Cristina Cavalcanti de Araújo e o resultado da pesquisa foi publicado como meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Os dados foram coletados a partir da aplicação de entrevistas, formulários online e físicos, com questões abertas e fechadas. Os métodos empregados foram de natureza etnográfica, com dados quantitativos e qualitativos, permitindo elaborar uma análise espacial, demográfica e cultural das ocorrências da violência contra a população LGBT do RN em suas diversas formas de expressão.
Participaram 1.294 pessoas no formulário online e mais de 300 pelo questionário físico. Os respondentes considerados pertencem a 33 municípios do estado, espalhados nas diversas mesorregiões. Entre os participantes da pesquisa, 63,41% afirmaram já ter sofrido algum tipo de violência, por sua orientação sexual ou identidade de gênero, um número que resulta na afirmação que há, sim, violências no RN. Quando questionados em quais locais sofreram violência, as respostas que apareceram com maior frequência foram na rua, na escola e na própria casa, ou seja, ambientes com os quais a população de forma geral tem que conviver em seu cotidiano. Segundo a pesquisa, o maior agressor que pratica esse tipo de violência quando não é desconhecido é alguém de sua própria família, de dentro do lar que esse LGBT convive. Das violações citadas, a violência psicológica apareceu com maior incidência, seguida de violência verbal e violência física.
Há quem diga e escreva que a LGBTfobia não exista, que é uma invenção, mas essa pesquisa revela que a violência contra LGBTs é real e está bem presente no Rio Grande do Norte.
*Rebecka de França é professora de geografia e coordenadora geral da Atransparencia-RN
Edição: Marcos Barbosa