A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) vê com “grande temor” a reforma da Previdência aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados na noite de quarta-feira (10). Segundo Dilma, as novas regras da aposentadoria, se mantidas como quer o governo de Jair Bolsonaro (PSL), irão levar a um empobrecimento dos idosos no Brasil.
Ela lembrou que as políticas sociais nos governos do Partido dos Trabalhadores --- como o Bolsa Família --- priorizavam as famílias mais jovens justamente porque os mais velhos, com os benefícios da aposentadoria no modelo atual, estavam mais protegidos. Dilma também criticou o regime de capitalização proposto pelo governo de extrema-direita.
“Agora você vai ver o que está acontecendo no Chile: aposentados que chegaram ao fim da sua vida de trabalho e não têm recursos suficientes para sobreviver”, afirmou ela em Curitiba (PR), após a visita que fez nesta quinta-feira (11) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na sede da Polícia Federal, acompanhada da escritora espanhola Pilar del Rio.
Recebida de forma calorosa, aos gritos de "Dilma guerreira da pátria brasileira", a ex-presidenta afirmou que a visita foi “comovente” e que a fez lembrar de sua própria prisão durante a ditadura militar.
"Sem dúvida nenhuma, foi um momento de muita dor vê-lo assim. Porque eu já estive durante três anos em uma cela e não é lugar adequado para pessoas, principalmente inocentes, presos políticos".
A prisão injusta de Lula, para ela, é reflexo direto do processo de impeachment que a retirou do governo sem que houvesse qualquer crime de responsabilidade.
"O sistema de Justiça brasileiro não pode ser desmoralizado e corroído. A gente sabia que, depois do processo de impeachment, havia um grande risco de outras instituições, além do Executivo, serem comprometidas por essa absurda ruptura no tecido democrático brasileiro. Se você pode mover um processo de impeachment sem crime tudo vale [no país] a partir de então, e isso ocorreu".
Sobre as revelações de conluio entre o ex-juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato, Dilma afirmou que todo o processo relativo à condenação de Lula está “viciado”. "Uma Justiça só merece o nome de Justiça se ela for imparcial. No minuto em que ela se torna parcial é injusta, por definição".
Para ela, mais grave ainda foi a interferência no processo eleitoral de 2018, principalmente após Sérgio Moro se vincular ao governo Bolsonaro no Ministério da Justiça e Segurança Pública.
"No caso do presidente Lula, não é só um indício de vício, mas a tentativa deliberada e clara de juiz e procuradores no sentido de evitar que ele tivesse qualquer possibilidade de influenciar na eleição na qual ele era o mais votado pelas pesquisas. Um juiz que é capaz de funcionar como assessor e, em outros momentos, como dirigente da acusação não é um juiz isento nem imparcial".
Segundo a ex-presidenta, o conluio judicial contra Lula representa a perda de credibilidade da Justiça brasileira. "Não só aos olhos da população, mas do mundo também. Isso é inadmissível em um país que se diz democrático. Estado democrático de direito sem imparcialidade da Justiça não existe".
O cenário político desde o golpe parlamentar de 2016, para Dilma, não faz jus aos princípios civilizatórios e constitucionais. "Isso tem outro nome: chama Estado de exceção, a velha tradição que vem de 300 anos de escravidão e 21 anos de ditadura".
Pilar del Rio, que teve encontros com Lula quando ele presidia o Brasil, disse ser muito difícil ver um líder mundial como ele submetido a esse tipo de perseguição. Mas ressaltou: “Ele está inteiro, lúcido e segue tendo capacidade de liderar a maioria da população”.
Edição: João Paulo Soares