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Mulheres trabalhadoras e guerreiras do assentamento de Canudos

Assentadas vendem itens fitoterápicos, culinários e cosméticos feiras e eventos

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Alzira Rodrigues e Leoneide Pereira fazem parte do Guerreiras de Canudos, um grupo de mulheres do assentamento Canudos
Alzira Rodrigues e Leoneide Pereira fazem parte do Guerreiras de Canudos, um grupo de mulheres do assentamento Canudos - Simonny Santos
Assentadas vendem itens fitoterápicos, culinários e cosméticos feiras e eventos

As mãos criativas de uma rede de mulheres do assentamento Canudos, em Goiás, criam produtos medicinais, cosméticos e culinários para a comercialização em feiras e eventos no Estado, possibilitando serem economicamente ativas, além de estarem envolvidas em atividades de convívio social.

O assentamento Canudos foi conquistado em 2002, mas é fruto de uma ocupação de 1997, a partir de uma luta histórica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Goiás. Lá, vivem 330 famílias em uma área de 13.500 hectares, sendo que 54% do território foi deixado como alguma forma de reserva. Canudos está localizado na divisa dos municípios de Palmeiras de Goiás, Campestre e Guapó, distribuídos nas Regiões Oeste e Metropolitana de Goiânia, capital do Estado.

O nome Canudos é em referência ao maior movimento de resistência à opressão dos grandes proprietários rurais, que ocorreu entre 1893 e 1897, no arraial de Canudos, situado no Sertão da Bahia.

Guerreiras de Canudos

Por volta do ano de 2008, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, eman parceria com a Universidade Federal de Goiás, a UFG, pensou em criar iniciativas para contribuir com o debate dentro de Canudos, foi aí que surgiu a ideia de organizar um grupo de mulheres. A partir disso, elas passaram a produzir e comercializar itens fitoterápicos, artesanais e culinários, além de discutir os temas femininos.

“Começaram a produção de fitoterápicos, cremes de pele com plantas medicinais e começou-se a participar de eventos, feiras, onde eram levados os produtos que eram primeiramente plantados e processados de forma coletiva; depois algumas iniciativas que eram produzidas de forma individual, mas que foram sendo incluídas no grupo, as mulheres foram sendo incluídas no grupo”, lembra a assentada Amélia Frans, que produz salame defumado, ovos e frango caipira, além de outros produtos derivados do fruto da época.

Atualmente cerca de 20 mulheres de Guapó, Palmeiras e Campestre participam ativamente do Guerreiras de Canudos, nome dado ao grupo que se reúne uma vez por mês para conversar. A assentada Antonieta Sousa Santos explica o porquê da escolha do nome: “Nós somos guerreiras de Canudos porque sempre fomos lutadoras, batalhadoras, que garra na luta e que fazem. Por isso o grupo guerra de Canudos”. Dona Antonieta considera o coletivo importante devido a troca de apoio entre as participantes. “A gente faz coisas artesanais, a gente reúne, por exemplo, faz polpa de frutas, geléia de frutas. A importância do grupo é que uma incentiva a outra, quando uma está desanimada a outra chega e dá aquela força”.

No início as guerreiras de Canudos trabalhavam em conjunto, mas devido ao alto custo financeiro com água e energia, elas passaram a produzir individualmente em suas moradias, já a comercialização é em parceria por meio de feiras e eventos.

Os valores obtidos com a venda dos produtos é importante fonte de renda para a família da assentada Leoneide Pereira. “É com esse trabalho que ajudo na despesa da minha casa. No bem-estar da minha família faz toda a diferença. É uma forma de incrementar a renda da família, porque como a gente não é assalariado a renda da gente é pouca, então a gente complementa com esse trabalho que a gente tem”.

Convívio Social

O grupo também auxilia nas relações sociais dentro do assentamento. Segundo Sara Duarte Sacho, integrante do Centro Vocacional Tecnológico, o CVT Apinajé, o coletivo funciona como uma rede de apoio e interação entre as mulheres participantes. “Elas contam que por conta das distâncias e responsabilidades de cada uma dentro do seu lote, com marido e filho, elas ficam isoladas, não se encontram, não se veem, não sabem o que está acontecendo com cada uma com a outra, então esses momentos de fazer algumas coisas juntas são muito importantes nesse sentido”.

O CVT Apinajé atua na região e uxilia na realização de atividades de extensão tecnológica e rural, pesquisa aplicada e formação de recursos humanos e socialização de conhecimentos e técnicas de agroecologia, produção orgânica e produção limpa em sistemas orgânicos de produção.

Edição: Michele Carvalho