Após dizer que as Nações Unidas (ONU) “não servem para nada” e que o país se retiraria do organismo internacional, Jair Bolsonaro (PSL) parece ter mudado de opinião. Ao menos quando se trata de criar polêmicas e factoides com consensos elementares dos direitos humanos.
A diplomacia do governo apresentou sua candidatura à reeleição no Conselho de Direitos Humanos da ONU, para o triênio 2020 e 2022, retirando menções à desigualdade, LGBTs, tortura e gênero, enquanto acrescentou por nove vezes a “promoção da família”.
O país concorre à uma das duas vagas disponíveis para América do Sul e o Caribe — a outra deve ficar com a Venezuela. As eleições serão em outubro.
Desde o final de junho, a diplomacia brasileira vem causando desconforto e perplexidade na ONU. Em uma sessão, que discutia medidas para pessoas deslocadas, imigrantes e refugiados, os diplomatas brasileiras, sob ordens do Itamaraty começaram a vetar a palavra gênero.
Austrália, França, Dinamarca, Noruega, Canadá e diversos outros países mencionaram desconforto em mudar resoluções consensuais até então. A delegação do México lembrou que o termo está em mais de 200 resoluções da ONU. Israel e Chile, aliados de Bolsonaro, não concordaram com a medida, que ganhou o apoio da Arábia Saudita.
Apenas em 2018 as mulheres sauditas tiveram o direito de dirigir permitido por lei.
O texto da candidatura de 2016 trazia duas menções a gênero e afirmava o compromisso pela “igualdade de gênero e empoderamento feminino”. No novo texto, o governo afirma que irá apoiar “política públicas transversais” que contribuam “para fortalecer as estruturas e relações familiares” com o “fortalecimento dos vínculos familiares, sob o enfoque dos direitos humanos”.
"Na ONU o Governo Jair Bolsonaro apresentará suas prioridades no documento de candidatura à reeleição no Conselho de Direitos Humanos da ONU. As principais pautas estão ligadas ao fortalecimento das estruturas familiares e a exclusão das menções de gênero", escreveu o presidente no Twitter.
Também não constam no documento, ao contrário de 2016, menções à pobreza, desigualdade, desemprego e fome.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira