Dois membros da equipe de segurança do líder opositor da Venezuela, Juan Guaidó, foram detidos na sexta-feira (12) negociando a venda de cinco fuzis roubados das forças armadas do país, informou no sábado (13) o ministro de Comunicação e Informação venezuelano, Jorge Rodríguez.
Em transmissão em rede nacional, Rodríguez apresentou fotos, áudios e vídeos demonstrando que Erick Sánchez e Jeison Parisi Castrillo eram guarda-costas de Guaidó, presidente da Assembleia Nacional venezuelana que se autoproclamou “presidente encarregado” do país no início do ano. Os dois foram detidos no momento em que tentavam vender o armamento roubado da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e utilizado durante a última tentativa de golpe sofrida pelo governo de Nicolás Maduro, no dia 30 de abril.
Parisi é treinador, em uma academia de escoltas que se transferiu para o Peru, de técnicas policiais baseadas nas Unidades de Armas e Táticas Especiais (SWAT) dos Estados Unidos. Já Sánchez tem credenciais da Assembleia Nacional e assumiu, na sua confissão, que trabalha com Guaidó há três meses. Ambos foram vistos em mais de uma ocasião fazendo a segurança do deputado opositor e presidente da Assembleia Nacional. Além dos dois guarda-costas, também foi preso em flagrante Eduardo Javier García, primo de Sánchez.
A operação que prendeu os três homens na sexta-feira foi coordenada pelo Ministério Público e confiscou também os cincos fuzis AK-103, registrados com número de série, e dez carregadores que pertenciam à Guarda do Palácio Federal Legislativo. O armamento seria vendido por um total de 35 mil dólares.
Mesa de diálogo
O governo de Maduro afirmou que levará as provas contra os seguranças de Guaidó para a mesa de diálogo com a oposição na Ilha de Barbados, junto de outros elementos de uma investigação que já dura 32 dias e tem revelado uma série de atos delitivos do setor opositor.
"Não pode ser que estejamos em uma mesa de diálogo permanente para sustentar um processo e uma coexistência pacífica e o círculo mais próximo a Juan Guaidó possuir armas que pertencem à República Bolivariana da Venezuela para proteger o povo, não para atentar contra ele", afirmou o ministro durante transmissão em cadeia nacional.
"Não vamos deixar que nos derrubem e também não deixaremos de dialogar", afirmou o vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, durante uma marcha chavista na tarde de ontem.
O sociólogo e analista político do portal Misión Verdad, William Serafino, também acredita que o diálogo deve continuar. "Guaidó e seu partido, o Vontade Popular, representam um setor da oposição que compõe a mesa de negociação. Creio que devem continuar, porque também estão outros fatores opositores com uma tendência moderada e eleitoral. Também há uma determinação do governo em manter essa instância, justamente porque essas ações de corte violento não representam a totalidade do antichavismo", conclui.
Juan Guaidó, no entanto, acusa o governo de ter "sequestrado" os dois membros de sua equipe para fragilizar sua segurança e instou uma resposta das Nações Unidas e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
"A ditadura teme uma saída da crise. Sua natureza e divisões são o maior obstáculo para uma solução política e pacífica. Forças Armadas e comunidade internacional: aumentar a tensão em todos os tabuleiros é a única forma de mudar Venezuela", escreveu no Twitter o líder da oposição venezuelana.
Para Serafino, os novos fatos somam mais elementos que comprovam a disposição do partido de Guaidó para uma saída violenta para a crise política.
"É uma prova de que a ala extremista do antichavismo, representada pelo Vontade Popular, vem se constituindo como uma espécie de partido com vocação paramilitar e mercenária. Também [é prova] de que é uma agenda entre as muitas que existem no interior da oposição venezuelana. Aqui não podemos falar da oposição como uma única voz. Devemos falar em oposições, com agendas eleitorais, armadas, insurrecionais e de coexistência", garante o analista.
Edição: Aline Scátola