Um dos delatores do processo contra o ex-presidente Lula, no caso do sítio de Atibaia, afirmou no início deste mês à Justiça de São Paulo que foi “quase coagido” pelos procuradores da Lava Jato a “construir um relato” que incriminasse o petista.
O ex-diretor-superintendente da Odebrecht Carlos Armando Paschoal depunha em outro processo, no dia 6 de julho, quando foi solicitado a explicar o que motiva uma pessoa a fazer delações.
"Sem nenhuma ironia, desculpa, doutor, [mas] precisava perguntar isso para os procuradores lá da Lava Jato", respondeu Paschoal. “No caso do sítio, que eu não tenho absolutamente nada, por exemplo, fui quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido. E eu, na verdade, lá no caso, identifiquei o engenheiro para fazer a obra do sítio. Tive que construir um relato”.
Segundo Paschoal ele foi obrigado a apontar algo como "olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras". Ele não deu mais informações a respeito.
O relato construído
O depoimento à 13ª Vara do Paraná, onde atuava o juiz Sérgio Moro – hoje acusado de conluio com os procuradores da Lava Jato para condenar Lula sem provas – ocorreu em novembro de 2018.
No relato “construído”, Paschoal disse que recebeu um pedido da cúpula da Odebrecht para “ajuda na reforma de uma casa em Atibaia, que seria, segundo ele me relatou, oportunamente utilizada pelo então presidente”.
À época, o ex-diretor falou à juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro, que o envolvimento da Odebrecht nas obras não podia ser revelado. O relato também incluía na informação de que ele teria sido procurado por Alexandrino Alencar, executivo da Odebrecht, para dar apoio à reforma.
“Esse tipo de pedido que vem muito de cima, não dá para questionar”, disse o ex-diretor na ocasião. No processo do sítio, Paschoal foi condenado a 2 anos de prisão, em regime aberto, por lavagem de dinheiro.
Edição: João Paulo Soares