Desde que o governo do México, liderado pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, aprovou seu Plano de Austeridade Republicana, disputas geraram os primeiros grandes conflitos internos da administração. O último capítulo ocorreu na terça (9), quando o ministro da Fazenda, Carlos Urzúa, renunciou alegando divergências com o mandatário.
Em carta, o agora ex-ministro dirigiu duras críticas ao governo, que, segundo ele, tomou “decisões de política pública sem sustentação suficiente”. Urzúa também afirmou que a opção de abandonar o cargo é resultado da “inaceitável imposição de funcionários” sem o conhecimento da pasta.
Aprovada no início de maio e em vigor desde o final do mesmo mês, a austeridade republicana resultou em uma drástica diminuição nos gastos do governo federal com a redução de salários e do número de pessoas em cargos públicos. A política, que visa acabar com privilégios, é uma promessa de campanha do mandatário mexicano.
As cisões no governo passaram a acontecer desde o início de junho, uma semana após os cortes terem sido iniciados. As primeiras baixas foram a da titular da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat), Josefa Gonzáles Blanco, e a do diretor-geral do Instituto Mexicano de Seguro Social (IMSS), Germám Martínez.
Embora a política de austeridade tenha como objetivo diminuir privilégios, e reverter fundos a programas sociais e à expansão das universidades, a saída de Martínez do IMSS, órgão responsável pela seguridade social e saúde, gerou críticas sobre um possível exagero na redução de gastos.
Para o cientista político Katu Arkonada, entretanto, a movimentação no interior do governo é normal. "O México está passando por uma mudança de regimento. E isso, obviamente, traz desordem”, argumenta.
Segundo ele, o país passa por uma austeridade republicana, que não tem nada a ver com a austeridade neoliberal, imposta pelo FMI e Banco Mundial. "É um momento de varrer do estado a corrupção estrutural e direcionar o gasto em políticas sociais. Isso também provoca tensões e é a parte que tem a ver com a renúncia de Urzúa”, completa.
Conflito
A saída de Urzúa surpreendeu os mexicanos. O ex-ministro é um velho parceiro político de Obrador, tendo sido secretário de Finanças quando o mandatário mexicano era prefeito da Cidade do México.
Segundo Luis Hernández Navarro, editor de opinião do jornal mexicano La Jornada, a saída de Urzúa é o conflito mais grave que López Obrador enfrentou nesses sete meses de governo.
“O significativo desta denúncia não é só que ela tenha acontecido, mas a carta pública com a qual o secretário deu a conhecer sua saída do governo de López Obrador. Ali, ele faz três críticas básicas muito significativas. A primeira, que foram tomadas decisões de política pública sem sustentação suficiente, segundo, que foram colocados funcionários sem seu conhecimento. E [em terceiro lugar] que isso foi instigado por personagens com conflitos de interesse”, explica o jornalista.
Em resposta, o presidente mexicano afirmou que Urzúa não havia entendido o plano de austeridade republicana. Depois, admitiu que havia diferenças significativas entre ele e o ex-ministro quanto ao Plano Nacional de Desenvolvimento mexicano.
No lugar de Urzúa, foi designado Arturo Herrera que ocupava o cargo de subsecretário da Fazenda. O agora ministro foi alto funcionário do Banco Mundial e faz parte do mesmo grupo político de Urzúa.
Economia de US$ 26,4 bilhões
López Obrador voltou a defender os cortes neste sábado (13) e disse que com a medida e iniciativas de combate à corrupção, o México conseguirá poupar US$ 26,4 bilhões (cerca de 500 bilhões de pesos).
Segundo ele, a austeridade irá possibilitar que o país dobre a aposentadoria dos idosos e garantirá direitos ao estudo e ao trabalho para 2,6 milhões de jovens. O mandatário declarou também que o programa tem como objetivo garantir que investimentos públicos cheguem em todo o país.
As previsões de crescimento do país, porém, não são animadoras. O resultado do primeiro trimestre indicou uma queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). As estimativas iniciais eram a de que o PIB crescesse 2% em 2019. Agora, dificilmente chegará a 1%. Economistas falam que o país pode entrar em recessão.
Edição: Rodrigo Chagas