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Famílias agricultoras de Imbuia se organizam com a venda de alimentos saudáveis

Já são 14 famílias que nos últimos três anos passaram a produzir sem agrotóxicos

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 Bernadete, mãe de Dulciani, se dedica diariamente à agricultura familiar e agroecológica
Bernadete, mãe de Dulciani, se dedica diariamente à agricultura familiar e agroecológica - Bob Barbosa
Já são 14 famílias que nos últimos três anos passaram a produzir sem agrotóxicos

A venda para grupos de consumidores vem incentivando práticas agroecológicas de 14 famílias da cidade de Imbuia, em Santa Catarina. Agora, elas produzem uma diversidade de alimentos, enviados semanalmente para pessoas que pagam antecipadamente e recebem cestas orgânicas em Florianópolis, a 150 quilômetros do município.

A agricultora Dulciani Allein coordena o grupo que produz sem agrotóxicos. Ela é responsável também pela comunicação direta, via internet, com os consumidores. “O projeto de Célula de Consumo Responsável é da UFSC e o nosso grupo de produtores foi convidado e aceitou o desafio. Iniciou com 26 cestas e hoje a gente está entregando mais de 160 cestas.”

As Células de Consumidores Responsáveis, idealizadas pelo Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar, da Universidade Federal de Santa Catarina, alcança também agricultores de outros municípios.

Em Imbuia, a agricultora Nahiara Ferreira tem nove hectares de terra, divididos entre o cultivo de orgânicos e a preservação com vegetação. “A gente está plantando para o consumidor comer sem medos.” Nahiara, que agora planta ao lado da casa, não se arrepende de ter entrado no grupo. “Meu marido vai às quartas e às sextas pra Florianópolis entregar. A gente tem dois dias de colheita, dois de entrega, sobra um dia na semana.

Segundo Dulciani, a mudança no método de produção das famílias agricultoras é resultado também da ação das mulheres. “De dentro do grupo a gente vê, elas que buscam e ficam puxando. No caso do meu pai, foi a minha mãe que começou. Ela acabou incentivando ele a também levar adiante. Ele gostou da primeira experiência e aumentou a produção.”

Assim, Dulciani ainda incentivou o irmão. “Eu brincava com ele: “vamos plantar orgânico também!” Ele dizia: ‘ah, não tem como, eu tenho muita dívida’. E a cada ano parecia que as dívidas dele não acabavam. Quando ele resolveu plantar orgânico, não conseguiu manter mais tempo a agricultura convencional. Fico feliz de ver porque eles conseguiram sair das dívidas, não que a renda seja tão alta. Mas o risco é menor no orgânico. Acaba sobrando mais porque tu não investes tanto com adubação, com venenos.”

A agricultora Sônia Ferreira, de Campo das Flores, em Imbuia, tenta convencer o marido para que também ele produza sem agrotóxicos. “Eu vi a parte da saúde da família, das pessoas que vão comer o produto. Mas ele ainda tem a cabeça da quantidade de produto, daí tem esse impasse. Então pra não abrir mão de mim, ele está abrindo mão de umas coisas: vai plantar menos no convencional e me ajudar. A gente separou as áreas, tem 25 hectares. Agora vou ficar com 1,3 hectar pra mim. Mas 1,3 de hectar no orgânico é seis pessoas diariamente trabalhando. E na convencional é maquinário, e pra eles veneno né.” Sônia defende o direito de produzir alimentos saudáveis. “Não vai ser um agrônomo de agropecuária que vai vir aqui e dizer assim: ‘Ah, bota ali um decis, que eles não sabem o que tem ali dentro’. Mas pra mim é veneno, que vai mutilando a planta, mutilando a terra, pra eles isso é o certo. Mas quero a saúde, e quero estar com a consciência limpa.”

Numa região com muitas lavouras de fumo e cebola cultivadas com insumos químicos, a existência de um grupo de agricultores e agricultoras que se recusam a usar agrotóxicos, que diversificam a produção, e que conseguem retorno financeiro pela venda direta, atende também às demandas dos consumidores da cidade por alimentos justos, limpos e com preços acessíveis.

Edição: Michele Carvalho