Com flores e cartazes nas mãos, companheiros e colegas do sem-terra Luis Ferreira da Costa fizeram um ato, na manhã deste sábado (20), em homenagem ao pedreiro, de 72 anos, assassinado há dois dias.
O ato “pela vida e pela reforma agrária" foi convocado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Praça Washington Luís, em Valinhos, interior de São Paulo. Militantes e apoiadores marcharam cerca de 2 km pelas ruas da região central até a Igreja Matriz da cidade.
Seu Luis, como era conhecido, foi morto na quinta-feira (18) enquanto participava de uma manifestação pacífica em frente ao acampamento Marielle Vive. Ele foi atropelado pelo vendedor Leo Luiz Ribeiro, de 60 anos, que acelerou contra os manifestantes.
Na manifestação deste sábado, a sem-terra Claudete Aparecida de Freitas, de 59 anos, segurava uma faixa onde se lia “Luís Ferreira presente, do luto à luta”. Junto aos participantes do ato, ela cantava músicas em homenagem ao vizinho, que morava a distância de duas casas da sua. “Seu Luis era uma pessoa dinâmica, muito feliz. Ele gostava de ir nos atos, puxava a turma. Estava sempre ali”, relata.
Claudete conta que o vizinho participava de um programa de alfabetização de jovens e adultos no acampamento. Seu Luis estava feliz porque passaria de ano e já estava começando a ler. “Ele era muito persistente”, conta ela, sorrindo ao recordar do amigo que concluiria mais uma etapa em 18 aulas.
Ela lembra que tinha acabado de chegar ao protesto no momento em que o idoso foi morto. Os integrantes do acampamento faziam um ato para reivindicar o fornecimento de água e luz no local, ocupado há mais de um ano.
“Foi um choque muito grande viver aquela situação. Não consegui dormir à noite, por causa das lembranças, né? Fica marcado na cabeça da gente. Estou muito triste”, conta.
A agricultora afirma que os colegas vão dar continuidade à luta por honra a seu Luis: “Ele estava lutando junto com a gente pelo direito da água, que nos foi negado desde o início. Ele era um guerreiro, um lutador.”
Outro amigo que lembrou com carinho do idoso é Aparecido Barbosa. Eles se encontravam todos os dias porque integravam o grupo de trabalho de infraestrutura do acampamento. “Era uma pessoa chave para gente. Era sempre o primeiro a chegar”, conta. “Dentro de um acampamento somos uma família, um ajudando o outro, um defendendo o outro”.
De Chico Mendes a Irmã Dorothy, Aparecido recordou outros nomes de militantes que foram assassinados por causa de sua atuação política em movimentos populares. “Isso vai ser uma guerra muito difícil para gente”, avalia.
“É mais um guerreiro indo. Assim como Marielle deu força para a gente encarar, Seu Luís é mais uma semente. Ninguém imaginava que ele ia deixar a gente”, comenta Aparecido.
Os militantes deixaram flores em frente à prefeitura de Valinhos. Em frente à Igreja Matriz, o padre Benedito Ferraro teceu homenagens ao pedreiro. Além dele, houve ato político com falas de deputados federais, como o petista Nilto Tatto e o psolista Ivan Valente, e das deputadas estaduais Erica Malunguinho e Isa Penna, ambas do PSOL.
O ato se encerrou com os militantes cantando a música Aroeira, de Geraldo Vandré, em homenagem ao pedreiro que era natural do Pernambuco e estava aprendendo a escrever.
Edição: Katarine Flor