O Irã anunciou nesta segunda-feira (22) a prisão de 17 cidadãos que supostamente estariam trabalhando como espiões para a CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos. Segundo o governo iraniano, alguns dos detidos serão condenados à morte.
Em comunicado, o chefe de espionagem do Ministério de Inteligência do país, cujo nome não é conhecido publicamente, disse que aqueles que “haviam colaborado consciente e deliberadamente” com a CIA foram entregues à Justiça e condenados à morte ou a “longas” penas de prisão.
De acordo com a declaração, os espiões teriam sido presos entre março de 2018 e março de 2019 durante uma operação de desmantelamento. O comunicado do ministro da inteligência foi lido na TV estatal iraniana.
Teerã não deu detalhes sobre quantos prisioneiros vão enfrentar penas longas e quantos serão executados. Alguns dos detidos, no entanto, teriam cooperado “com total honestidade e provaram seu arrependimento”, concedendo informações sobre os EUA.
O presidente estadunidense, Donald Trump, afirmou que a notícia é falsa.
“Zero de verdade. Só mais mentira e propaganda (como a que eles derrubaram um drone) divulgada por um regime religioso que está fracassando e não tem ideia do que fazer. A economia deles está morta, e vai piorar ainda mais. O Irã é uma zona!”, disse o mandatário pelo Twitter.
Já o secretário de Estado, Mike Pompeo, foi mais cauteloso e disse não ter elementos suficientes para comentar o caso. Mas lembrou que o Irã tem um "histórico de mentiras".
Escalada das tensões
As tensões entre Irã e EUA aumentaram desde que Trump anunciou, em maio de 2018, a retirada do país do acordo relativo à manutenção do programa nuclear iraniano. Após a saída dos EUA do pacto, Washington restabeleceu as sanções contra a república islâmica, contrariando os demais signatários, que afirmam que Teerã sempre respeitou os compromissos do acordo.
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Ainda assim, Washington anunciou, em abril deste ano, a extensão das sanções ao petróleo iraniano a todos os clientes que negociavam com o país, elevando ao máximo a pressão contra Teerã.
Em resposta, o Irã deixou de aplicar alguns dos compromissos do pacto, aumentando o enriquecimento de urânio e exigindo que os demais signatários cumprissem algumas de suas exigências, entre elas a de que os países europeus protegessem sua empresas para que elas seguissem negociando com Teerã.
Em vigor desde julho de 2015, o acordo nuclear foi assinado pelo chamado grupo 5+1 (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha). O pacto tem como objetivo limitar o programa nuclear do Irã. Em troca, o grupo retirou as sanções que atingiam os setores de finanças, comércio e energia do país. Bilhões de dólares e de bens congelados foram liberados com o fim das imposições.
Golfo pérsico
O acirramento das tensões foi levado para o Golfo Pérsico depois que Washington reforçou sua presença militar na região. O país afirma que o Irã teria sabotado quatro navios no Estreito de Ormuz, em maio. Os EUA alegam ainda que Teerã estaria por trás de ataques contra petroleiros do Japão e Noruega, em meados de junho. O Irã negou qualquer envolvimento nos casos.
Os EUA também acusaram o país de ter abatido um drone que supostamente sobrevoava águas internacionais. Teerã, que divulgou imagens do equipamento, afirma que ele foi derrubado após invadir o seu espaço aéreo.
Na última semana, outros dois eventos elevaram ainda mais os conflitos na região. Na quinta-feira (18), os EUA anunciaram a derrubada de um drone iraniano que supostamente sobrevoava uma embarcação norte-americana. A república islâmica rebateu, afirmando que os EUA derrubaram um aparelho de sua própria marinha.
O episódio mais recente ocorreu na sexta (19), quando a Guarda Revolucionária do Irã anunciou que havia detido um cargueiro com bandeira britânica que navegava no Estreito de Ormuz. O governo do país afirma que a embarcação fazia “contrabando” de combustível no Golfo.
Segundo a porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, a captura é ilegal. “O navio foi capturado sob pretensões falsas e ilegais e os iranianos devem libertá-lo, assim como sua tripulação, imediatamente”, afirma o comunicado.
Os 23 tripulantes do navio, majoritariamente indianos, permanecem na embarcação. Segundo o diretor da Organização de Portos e Navegação da província iraniana de Hormozgan, Alahmorad Afifipur, o navio está em uma “zona segura” do porto de Bandar Abbas.
Edição: João Paulo Soares