Maria Lucilene Bernardes da Silva de Moura, ou como gosta de ser chamada, Cilene, é uma agricultora, produz leite, milho e feijão na sua propriedade, no município de Quixeramobim, região dos sertões central do Ceará, mais precisamente no assentamento Nova Canaã, distrito de Lacerda. Canaã, na literatura bíblica, é a terra prometida que Deus enviou para o povo que passara décadas caminhando no deserto. O deserto é caracterizado por ser uma região com pouquíssima quantidade de chuva e solo estéril, a baixa umidade e a quase inexistente vegetação tornam a vida humana quase impossível.
Outra designação para palavra “deserto” é para descrever lugar ermo, solitário, abandonado. Cilene afirma que é assim que os agricultores familiares se sentem em relação ao atual Governo Federal. Se por um lado, em pouco mais de 200 dias de gestão, liberam 290 novos agrotóxicos, propõem perdoar bilhões de dívidas ao agronegócio e negam o crescimento do desmatamento da Amazônia, por outro, dificulta-se o acesso aos créditos e a aposentadoria das pequenas propriedades, responsáveis pela maior parte da produção de alimentos no Brasil.
Para Cilene, que é da coordenação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Quixeramobim, o ano tem sido de muitas dificuldades na agricultura e acredita que se não houver luta para melhorar, a tendência é da vida ficar ainda mais difícil. Contudo, mesmo nos desertos mais áridos, podemos ver um oásis brotar. Confiante e otimista, a agricultora cearense e outras milhares de trabalhadoras do campo, da floresta e das águas de todo Brasil se preparam para desaguar na sexta edição da Marcha das Margaridas que vai acontecer nos dias 13 e 14 de agosto, em Brasília (DF), formando um oásis de esperança.
Cilene, mulher negra do semiárido cearense, está prestes a participar pela primeira vez da Marcha, junto com 100 mil mulheres que se juntarão com o tema para reivindicar direitos, soberania e protestar contra as medidas que representam retrocessos aos direitos das mulheres do campo e da cidade impostas pelo governo federal. Neste 25 de junho de 2019, Cilene, mulher negra e trabalhadora rural sintetiza a esperança de muitas margaridas pelo Brasil.
Dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural
Reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (Fao) como Dia Internacional do Agricultor Familiar em 2014 e, no Brasil, Dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural. Inicialmente “Dia dos Colonos” em homenagem aos imigrantes que chegaram no Brasil no fim do século XIX, início do XX, foi se transformando com o tempo e hoje é o dia de todos pequenos agricultores.
Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, na República Dominicana, onde reuniram-se para debater sobre o machismo e racismo, surgiu a necessidade que a Organização das Nações Unidas (Onu) reconhecesse o 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. E, desde 2014, no Brasil a data marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola do século 18 que dirigiu quilombos e comunidades indígenas na resistência à escravidão.
Edição: Monyse Ravena