Agroecologia

Natal (RN) recebe I Feira Cultural da Reforma Agrária

No evento, foram comercializados alimentos livres de agrotóxicos

Brasil de Fato | Natal (RN) |
Com produtos da Agricultura Familiar, Feira também é marcada por arte e cultura
Com produtos da Agricultura Familiar, Feira também é marcada por arte e cultura - Isadora Morena

Na I Feira Cultural da Reforma Agrária de Natal, chamava atenção a primeira banca que oferecia doces, geleias, licores, óleo de coco e molhos de pimenta. “Tudo orgânico”, como enfatizou Maria José, mais conhecida como a doceira Dona Linda. Os produtos comercializados por ela e demais vendedores da Feira são oriundos da agricultura familiar, produzidos em acampamentos e assentamento organizados pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) em todo o estado. A feira agroecológica foi realizada no último dia 20 de julho, no Museu Café Filho, na Cidade Alta
Da cozinha de Dona Linda, os doces percorreram 66 km para chegarem, de Pureza, onde está localizado o Assentamento Paulo Freire, a Natal. Dos seus tachos são produzidos uma variedade de 48  doces caseiros, todos feitos com frutas da agricultura familiar, a maioria, do seu próprio quintal. Ela nos contou que os doces foram uma forma de aproveitar as frutas existentes no terreno. “Tudo começou com os doces, depois começamos a plantar pimenteiras e fazer molhos, depois observamos que tínhamos muito coqueiro, passamos a produzir farinha e óleo de coco. Algumas mulheres se animaram a produzir licor. Hoje somos seis mulheres nessa produção toda”. Os produtos são consumidos pelo campo e pela cidade, circulando em feiras e comércios. Feliz, Dona Linda conta que com os doces até em São Paulo já foi. 


Dona Linda nos fala sobre o processo da fazedura do doce de jaca, um dos mais vendidos em sua banca. Orgulhosa, ela conta que plantou o pé da fruta há doze anos, quando sua família chegou ao Paulo Freire, e hoje a árvore dá os frutos, que são cozidos e comercializados em potes de 600g por 15 reais. No Paulo Freire vivem, atualmente, 62 famílias que cultivam frutas, hortaliças e criam animais. O terreno foi ocupado de forma pacífica em 2002. Márcio Melo, coordenador de produção do MST no estado, fala que em 2004 houve uma reintegração de posse e o Incra passou dois anos sem poder vistoriar o terreno, até que em 2006, há 13 anos, ocorreu a desapropriação e a terra passou a ser da coletividade. Paulo Freire é um exemplo de sucesso  de quando a política da Reforma Agrária é implantada.
Esse é a mensagem que a Feira Cultural da Reforma Agrária quis trazer ao coração de Natal. Além dos produtos alimentícios comercializados, a feira incluía venda de livros e artesanatos. Na programação, debate sobre arte e cultura em tempos de resistência, espetáculo de teatro e shows musicais.
Foi a peça “Sal, menino mar”, do grupo potiguar Facetas, Mutretas e outras histórias, que levou Simone Dutra ao Museu Café Filho. Ela não sabia que o evento era organizado pelo MST, mas gostou do que viu. “Eu achei muito interessante ter os produtos da agricultura familiar, eu sempre tento consumir alimentos orgânicos”. Ela saiu de lá com a sacola cheia de feijão branco, farinha e café.
O café veio de longe, do Espirito Santo, mas a farinha e o feijão vieram de mais pertinho, mais precisamente do município de Pedro Velho, onde está instalado o acampamento Marielle 2. José de Souza, morador de lá, afirma que junto à sua família vivem outras 21 que trabalham na produção de batata, mandioca, feijão, milho, jerimum, coentro, amendoim. Ele conta que viviam na beira da estrada quando resolveram, há um ano e três meses, ocupar as terras improdutivas, que estão sob a posse de um banco. “Estamos na luta para ficar na terra e continuar trabalhando nela à vontade”, afirma José.


Para animar os frequentadores da feira, tocaram a banda de forró pé de serra Fuxico de Feira e a rabequeira e cantora Tiquinha Rodrigues fez seu show “Giros in Solo” com a participação da cantora pernambucana Isaar França.
Eduardo Matos Lopes gostou do evento. “Vim ao convite de uma amiga, que foi largamente atendido, já que defendo a agricultura familiar, a resistência, a reforma agrária. Independente de política partidária eu defendo direito para todos. Eu achei o máximo a decoração, a estrutura, o espaço, o que está sendo proposto, o ambiente, a energia tá muito legal”, afirmou o professor de História.

Edição: Marcos Barbosa