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Como estão as vítimas do crime de Brumadinho, seis meses depois?

Rompimento da barragem deixou 248 mortos e 944 mil pessoas atingidas

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Seis meses após o ocorrido, a população não encontra meios para manter a economia individual
Seis meses após o ocorrido, a população não encontra meios para manter a economia individual - Agência Brasil | EBC
Rompimento da barragem deixou 248 mortos e 944 mil pessoas atingidas

No dia 25 de janeiro de 2019, o rompimento da Barragem I da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), administrada pela mineradora Vale desde 2003, mostrou, após Mariana, que a mineração no Brasil é mais do que capaz de devastar o país. 

Ao todo, foram 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos derramados em 18 municípios cortados pelo Rio Paraopeba, onde ainda hoje estão soterrados 22 corpos entre os quase 248 mortos. 

A lama atingiu a vida e trabalho de pelo menos 944 mil pessoas atingidas, e menos 10% delas recebem uma indenização no valor de um salário mínimo. A Defensoria Pública Estadual de Minas Gerais (DPE-MG) tem prestado atendimento individual às famílias atingidas desde o dia 28 de janeiro e constatado a ocorrência de vários danos em decorrência do rompimento da barragem.

O crime em Brumadinho é considerado o segundo maior desastre industrial do século e o maior acidente de trabalho do país.

O Brasil de Fato foi às ruas e ouviu a pergunta de Ana Paula Izidoro, que quer saber como estão as pessoas atingidas pela lama em Brumadinho, seis meses após o ocorrido.

"Olá, meu nome é Ana Paula Isidoro, eu trabalho com vendas. A minha dúvida é sobre Brumadinho, eu queria saber como estão as famílias, os corpos que não foram achados ainda?"

Quem responde a pergunta é o jornalista Pedro Stropasolas, que esteve na cidade de Brumadinho de 15 a 20 de julho para o especial, Brumadinho: seis meses de um crime sem reparação.

"Oi, Ana Paula, meu nome é Pedro Stropasolas e sou repórter do Brasil de Fato. Bom, respondendo a sua pergunta, eu estive agora em Brumadinho para fazer esse especial sobre os seis meses do crime. A situação ainda é de muita preocupação, muita falta de assistência, principalmente por parte da Vale, na reparação desses atingidos. É bom deixar claro que os atingidos não são só aqueles que foram atingidos pela lama, mas  toda uma população que tá presente nas cidades, que o Rio Paraopeba corta. O rio tá contaminado até quando ele chega no encontro com o São Francisco, então são mais de 18 municípios, ali que estão passando o rio, que está cheio de metal pesado. Então, está muito difícil, são municípios muito dependentes da produção agrícola, da relação da pesca. Então, o número de atingidos é muito maior do que a gente pensa. Nos lugares mais afetados, que é o Parque da Cachoeira e o Córrego do Feijão, onde estava a mina, a situação é um pouco mais preocupante, no sentido da própria recuperação da vida, a recuperação da renda, as pessoas estão muito abatidas, muita presença nos postos de saúde. A questão da saúde mental é muito preocupante, muitas pessoas passando por períodos de depressão, de alcoolismo, muita dificuldade de retomar as atividades de renda. Até do mínimo negócio, da coisa mais trivial, como uma padaria, até um artigo de presentes, papelarias, tudo está condenado ao fracasso, as pessoas estão querendo sair daquela localidade, muitas casas para alugar. No Parque da Cachoeira, a questão agrícola realmente acabou, a lama destruiu com qualquer tipo de produção naquela localidade, produtores com dívidas, com dívidas com o Pronaf, diferentes tipos de dívidas referentes à produção. A situação está muito crítica lá ainda e tende a piorar, já que esse auxílio que a Vale vem pagando, todo mês, para 95 mil de atingidos naquela localidade, vence agora em janeiro de 2020, então a situação, pode ainda piorar com o vencimento desse auxílio emergencial pago pela Vale". 


 

Edição: Michele Carvalho