Dois atiradores, pelo menos um com suspeitas de motivações xenofóbicas e racistas contra imigrantes latinos, abriram fogo em duas cidades dos EUA contra a população civil desarmada, vitimando, até o momento, 30 pessoas.
Em El Paso, no Texas, uma cidade fronteiriça com Ciudad Juarez, do México, pelo menos 20 pessoas foram mortas e 26 feridas por um homem branco que entrou em um Walmart fortemente armado. Pela lei texana, conhecida como “Open Carry Law” [Lei de Livre Porte], o terrorista não cometeu nenhum crime até começar a atirar, pois é permitido carregar armas de fogo pesado.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse sobre os atentados que “'não é desarmando o povo que você vai evitar. O Brasil é, no papel, extremamente desarmado e já aconteceu coisa semelhante aqui”.
O país teve um episódio semelhante neste ano, em Suzano, com oito mortos. Nos EUA, com uma legislação que facilita o acesso, foram 2193 massacres armados com um total de 2477 mortos e 9168 feridos desde 2012.
Um homem de 21 anos está detido sob suspeita de ter cometido os crimes enquanto também é analisado um manifesto de ódio contra a “invasão hispânica nos EUA”. Estima-se que seis dos mortos sejam mexicanos.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, manifestou suas condolências e seu chanceler, Marcelo Ebrard, disse que o país pode vir a pedir a extradição do atirador para responder por terrorismo. “Para nós, não há dúvida que ele é um terrorista”, disse.
Já em Dayton, Ohio, um homem fortemente armado matou nove pessoas e feriu ao menos 27 em um distrito histórico, cerca de quatro horas depois do ataque no Texas em apenas pouco mais de um minuto de tiroteio. Policiais que estavam próximos responderam rapidamente e mataram o atirador.
Segundo Nan Whaley, prefeito da cidade do centro-oeste estadunidense, o atirador tinha a capacidade de matar centenas de pessoas caso não tivesse sido prontamente detido. O senador de Ohio Sherrod Brown disse à rádio WHIO que pediu a suspensão do recesso do Senado desta segunda-feira (5) para votar uma lei que pede “checagens profundas” para qualquer compra de armas.
“As armas usadas são de uso militar. Não são de caça nem de proteção pessoal”, protestou. Apenas no Texas, são um milhão de pedidos para compra de armamentos por ano.
O ato foi condenado pelo presidente presidente Donald Trump e por políticos de todas as correntes. Entre os republicanos, as explicações foram de “videogames violentos” até aqueles que reconheceram o componente de “terrorismo de extrema-direita e supremacismo branco”.
Beto O’Rourke, representante de El Paso e candidato a concorrer à presidência dos EUA pelo partido Democrata, culpou Trump, de quem o suspeito do crime no Texas é admirador, de incentivar o ódio contra imigrantes mexicanos e tentou fazer com que os estadunidenses tenham medo deles “com consequências e efeitos reais”.
“Nós temos um incremento de crimes de ódio nessa administração. Um presidente que chamou mexicanos de estupradores e criminosos, mesmo eles cometendo menos crimes que os nascidos aqui. Ele quer que tenhamos medo. Tentar banir muçulmanos, os atentados contra mesquitas (...) os ataques contra mulheres de cor. Ele é um racista e incentiva isso. E isso não apenas ofende nossa sensibilidade como também muda o país e leva à violência”, disse O’Rourke.
Os EUA têm as leis de armas mais liberais entre os países desenvolvidos. Apenas em 2016, 39 mil pessoas morreram em decorrência de ferimentos de armas de fogo. A maior parte, 23 mil, foram suicídios e 14 mil homicídios, além de 421 em atentados.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira