Novos diálogos divulgados nesta terça-feira (7) trazem mais informações sobre as investidas clandestinas da Lava Jato contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Desta vez, segundo reportagem publicada pelo Uol, os vazamentos mostram os procuradores usando o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como laranja para protocolar uma ação contra Gilmar no próprio tribunal.
Na segunda-feira, matéria do jornal El País já mostrava as manobras da força-tarefa contra o ministro – que vinha questionando as ações da Lava Jato e expedindo mandado de soltura para alguns dos presos.
O histórico de conversas mostra, segundo o portal, que desde setembro os procuradores reclamavam de uma decisão do dia 14 daquele mês, quando Mendes mandou soltar Beto Richa (PSDB), então candidato ao Senado pelo Paraná, e outras 13 pessoas presas na Operação Rádio Patrulha.
A operação não tinha relação direta com a Lava Jato. Na época, a prisão de Richa chegou a ser apontada como manobra política para beneficiar outro candidato a senador, Flávio Arns, também da Rede, que seria muito próximo de Rosângela Moro, mulher do então juiz Sérgio Moro. De fato, após a prisão, Arns roubou de Richa a segunda posição na corrida pela vaga e acabou se elegendo.
Passada as eleições, ocorre a articulação entre a Lava Jato e Randolfe para que a Rede protocolasse no STF uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) contra Mendes. O objetivo era impedir que o ministro voltasse a soltar presos em processos que ele não fosse o juiz da causa.
A negociação foi relatada por Dallagnol a outros integrantes da força-tarefa a partir de 9 de outubro de 2018. Dois dias depois, a Rede protocolou a ADPF.
“Melhor solução alcançada: ADPF da Rede para preservar juiz natural”, escreveu Dallagnol, relatando reunião onde se teriam discutidos as estratégias para barrar Mendes.
Mais tarde, Dallagnol volta ao grupo para informar que “Randolfe super topou” e que este iria passar os termos da ação para um assessor jurídico “já ir minutando”
Dois dias depois, Deltan antecipa aos procuradores, horas antes que o assunto fosse noticiado pela imprensa, que a ADPF havia sido protocolada.
“Frouxa”
Às 18h55 desse mesmo dia, 11 de outubro, o procurador Diogo Castor anuncia no grupo que a ministra Cármen Lúcia tinha sido escolhida como relatora da ADPF. A notícia não é bem recebida pelos colegas.
O procurador Athayde Ribeiro Costa escrve: “Frouxa”. Castor rebate: “Sei não hein”. Ele emenda: “Contra gm [Gilmar Mendes]”, ponderou, “Ela vai crescer”. Athayde discorda e diz: “Amiguinha”. Dallagnol também desconfia: “Ela é amiga da esposa do GM”.
Em novembro, Cármen Lúcia negou seguimento à ADPF, arquivando a ação.
Outro lado
Randolfe Rodrigues e a Rede divulgaram nota afirmando que a decisão de protocolar a ação contra Gilmar Mendes passou “por rigoroso crivo político interno” e que o senador e o partido “jamais se converteram ou se converterão em meros porta-vozes de quem quer que seja”.
Já a lava Jato repetiu a resposta padrão, segundo a qual não reconhece a autenticidade dos diálogos e que o material é “oriundo de crime cibernético”.
Edição: João Paulo Soares