A derrota do presidente Mauricio Macri nas eleições primárias da Argentina, ocorridas neste domingo (11), fez o dólar disparar no país e derrubou na segunda-feira (12) a Bolsa de Buenos Aires, que chegou a registrar queda de 30% por volta do meio dia. A "vingança" do mercado pela vitória da chapa Alberto Fernández-Cristina Kirchner se fez sentir também no risco-pais, que ultrapassou os 900 pontos.
O dólar é um dos principais indicadores do nervosismo do mercado com a derrota de Macri. A moeda norte-americana chegou a subir mais de 33% em relação à cotação da sexta-feira passada (9), chegando a $ 60 pesos por dólar. Este valor é $15 pesos maior do que o do último fechamento. O governo precisou intervir, vendendo US$ 100 milhões e conseguiu reduzir o preço da divisa para $58 pesos por volta das 15h. Ao fim do dia, a moeda norte-americana fechou a $ 57,30 pesos.
O índice Merval, da Bolsa de Buenos Aires, abriu em forte queda, de cerca de 35%, e se manteve próximo deste número durante a tarde. Ao final do dia, a Bolsa de Buenos Aires fechou com uma queda de 30%. Na Bolsa de Nova York, as ações de empresas argentinas caíram mais de 65% nesta segunda. Além disso, o risco-país, medição usada por corretoras e bancos para medir a taxa de juros a ser cobrada da Argentina no mercado internacional, chegou a registrar uma elevação de 5%, atingindo 904 pontos.
A instabilidade desta segunda levou o governo a aumentar em mais de 10 pontos percentuais a taxa de juros básicos do país, que foi de 63,7% para 74%.
Repercussão
Segundo a imprensa argentina, as movimentações demonstram que o mercado deixou de acreditar na reeleição de Macri - que perdeu para Fernández com uma diferença de 15 pontos percentuais.
“O resultado eleitoral foi um cisne negro para o mercado”, afirmou o jornal Página12 que classificou os movimentos financeiros desta segunda-feira como “assombroso até para os especialistas”. “O voto foi pela produção e pelo trabalho. Disseram um basta à especulação financeira”, constatou o periódico.
Já segundo o jornal Clarín, tanto o dólar, como o risco país, devem continuar a subir ao longo do dia.
Pauta econômica
Analistas ouvidos pela imprensa argentina afirmam que os eleitores "votaram com o bolso", ou seja, tendo a economia como principal preocupação na hora de enfrentar as urnas. E foi a economia que dominou os debates da corrida pela presidência: o país passa por sua maior crise desde que declarou moratória, às vésperas do natal de 2001.
O próximo mandatário terá que lidar com a crescente desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, que piorou com o resultado, e com uma inflação que fechou 2018 em 47,6%, o maior índice dos últimos 27 anos.
O endividamento público do país também é um problema, tendo a Argentina inclusive recorrido a um empréstimo de US$ 57,1 bilhões junto ao Fundo Monetário Internacional. Especialistas já afirmam que o país pode ter que declarar moratória novamente.
Edição: Opera Mundi