Em entrevista concedida ao jornalista Bob Fernandes, na TVE Bahia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou sobre o papel das Forças Armadas no atual processo histórico brasileiro, num momento em que a soberania brasileira é seriamente ameaçada sob vários pontos de vista, da política internacional à entrega de patrimônios como o pré-sal e a destruição da Amazônia. “Onde estão os militares nacionalistas?”, questionou. “Em que país do mundo uma distribuidora como a BR (que se tornou empresa privada recentemente) vale menos que um hotel? Venderam a BR por menos que o Copacabana Palace.”
Sobre o general Eduardo Villas-Boas – ex-comandante do Exército e atualmente assessor especial de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto –, Lula afirmou que ele “deveria ler os anais das forças armadas” e dizer se encontra um presidente “que teve o respeito e cuidou das forças armadas como eu cuidei”. Segundo Lula, as Forças Armadas deveriam ter “um papel importante em cuidar da nossa soberania, não contra o nosso povo”.
Em 2018, Villas-Boas postou mensagem no Twitter e deu entrevista à Folha de S.Paulo insinuando que poderia intervir se o Supremo Tribunal Federal (STF) concedesse Habeas Corpus ao ex-presidente. Ainda sobre nacionalismo, lembrou que algumas das maiores estatais estão sendo vendidas para estatais de outros países.
O petista avalia que Bolsonaro “colocou um grupo de militares aposentados para dar garantia a ele”. O atual comportamento das Forças Armadas, ativamente ou por omissão, segundo Lula, “é fruto de uma doença ideológica”.
Questionado pelo jornalista sobre o que pensa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Lula não perdoou o tucano. “É lamentável. Poderia até falar bem pelo histórico dele até entrar na política. Ele não merece o meu respeito. Lamentavelmente, ele vai morrer sem aprender a ter convivido com meu sucesso.”
Para Lula, FHC “nem foi bem sucedido internamente nem no exterior como eu fui”. “Como pode o príncipe da sociologia ser ultrapassado em prestígio? Lamento, porque ele deveria ter tirado proveito do processo democrático de 2002, mas não tirou.”
“Caminhamos um futuro em que o que vale é o conhecimento e eles estão jogando isso fora”, disse, em referência aos ataques do governo de Jair Bolsonaro às universidades. “Este país que está sendo destroçado já foi um grande país e já foi respeitado em qualquer país do mundo.” O papel do ministro da Economia, Paulo Guedes, “é destruir totalmente a economia brasileira e fazer do Brasil um país vassalo (dos Estados Unidos)”.
Prisão e Sergio Moro
Ele voltou a dizer que não aceita progressão de pena no caso de sua condenação. “Eu quero sair daqui com 100% de inocência, porque eu estou aqui porque eu quero. Eu poderia ter saído do Brasil. Porque o jeito de eu ajudar a colocar bandido na cadeia é ficar aqui. Quanto tempo eu não sei, mas é daqui de dentro que quero provar que eles são bandidos e eu não.”
Apesar de estar preso há quase 500 dias, Lula reiterou ainda acreditar que o Judiciário brasileiro faça justiça. “Espero que, depois de tudo o que aconteceu, a Suprema Corte (o Supremo Tribunal Federal) faça justiça neste país. Não peço nenhum favor. Que o país volte a ser um Estado de direito e as pessoas acreditem na justiça.”
Comentou a revelação do The Intercept Brasil de que o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, quando comandava a Lava Jato, orientou procuradores a não apreender celulares do ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso.
“O que tinha no telefone de Eduardo Cunha que o Moro não queria que ninguém soubesse? Por que não aceitaram uma delação do Eduardo Cunha?”, questionou. “Tudo isso o seu Moro tem que explicar. Ele não tem mais toga. Virou um cidadão comum.” Moro está se mantendo apesar de todas as revelações “porque a Globo sustenta ele”, disse.
Sobre o procurador Deltan Dallagnol, disse que o Conselho Nacional do Ministério Público “já deveria ter pedido a exoneração desse moleque”, devido ao seu comportamento no cargo.
O ex-presidente voltou a dizer – o que a presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, também tem afirmado – ter clareza de que “tudo o que está acontecendo no Brasil com a Lava Jato tem o dedo doas americanos”. Segundo Lula, o Departamento de Justiça (Doj) dos Estados Unidos “manda mais no Moro do que a mulher dele”.
Perguntado por Fernandes sobre lideranças de esquerda que considera importantes, citou Ciro Gomes, o governador maranhense Flávio Dino e Guilherme Boulos.
Edição: RBA