Enxergar e refletir sobre os espaços de produção de alimentos existentes em São Paulo (SP). Esse foi o objetivo da oficina “Plantando memória: hortas urbanas na cidade de São Paulo” que aconteceu na tarde de sábado (17), na Horta das Flores, na Mooca.
“É preciso ter esse olhar mais qualificado para a agricultura e saber que São Paulo não é só essa selva de pedra, com desigualdades, diversidade cultural, trânsito e poluição. Tem gente produzindo alimentos, criando porcos e pescando artesanalmente. Temos que nos inspirar e pensar que a capital pode ser diferente a partir da ação dos próprios cidadãos”, explicou André Biazoti, do Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo (MUDA-SP), um dos responsáveis pela oficina.
Ativista dos coletivos Banquetaço e Sustenta, o pesquisador André Luzzi também orientou a oficina e destacou que é fundamental compreender a alimentação como direito humano, do ponto de vista da erradicação da fome e do consumo de alimentos de qualidade. “Por isso, acreditamos nas hortas como espaço de autonomia alimentar, de produzirmos nosso próprio alimento livre de transgênicos, de conectarmos com a terra e com nossa ancestralidade”, destacou.
Para Luzzi, os espaços de produção em São Paulo oferecem a possibilidade de uma maior emancipação frente aos interesses das grandes corporações e permite a soberania alimentar, fazendo com que a população participe ativamente das políticas de segurança alimentar.
De acordo com o censo agropecuário do IBGE de 2017, existem 550 unidades de produção em São Paulo. O levantamento não inclui, porém, as hortas da região central como a própria Horta das Flores, Horta das Corujas, do Centro Cultural de São Paulo, do Viveiro Zilda Arns, Cores e Sabores do Capão Redondo, entre outras.
Biazoti -- que atualmente trabalha em sua dissertação de Mestrado na Universidade de São Paulo (USP) com o tema “Engajamento político na agricultura urbana: a potência de agir nas hortas comunitárias de São Paulo” -- fez um resgate histórico da agricultura, desde antes mesmo da capital se configurar como cidade, passando pela chegada dos imigrantes, o crescimento cada vez maior da população, as políticas públicas de incentivo ao longo dos anos, até os dias atuais, onde se vê um número maior de cidadãos comuns querendo ter hortinhas e gente que de fato quer se inserir na agricultura como atividade comercial.
Ao final, os participantes fizeram uma visita à Horta das Flores e realizaram um plantio.
Além do acesso à terra, água, ferramentas e sementes, para o pesquisador, um dos grandes desafios enfrentados para se criar e se manter uma horta urbana em São Paulo é a falta de apoio da prefeitura. “Poderíamos ter um programa estruturado de cadastramento de áreas, formalização das hortas já existentes e assistência técnica. Com isso teríamos uma proliferação de hortas na cidade para além dessas que surgem a partir de iniciativas mais naturais, voluntárias e orgânicas”, acredita.
Em 2019, o Programa Municipal de Agricultura Urbana (PROAURP) celebra 15 anos de existência e está em fase de elaboração na cidade o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Finalizando, Luzzi salientou a importância da integração e conexão das lutas do campo e da cidade e apontou o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como um dos responsáveis por incentivar essa união solidária.
“Percebemos nessas últimas duas décadas uma articulação maior do Movimento para desenvolver as comunas urbanas como o assentamento Dom Tomás Balduíno na região metropolitana de São Paulo e isso contribui com a ampliação do espectro de abastecimento da população, além da realização das feiras da reforma agrária que são fundamentais no processo de comercialização dos produtos produzidos”, concluiu.
Edição: Rodrigo Chagas