maranhão

Ameaçado de despejo, acampamento do MST é o maior produtor da região de Itinga (MA)

Terreno da União é requerido por empresa que transita na "Lista Suja" do trabalho escravo; 150 famílias serão afetadas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

Ouça o áudio:

Acampamento Marielle Franco comercializa produção em feiras do município de Itinga, no Maranhão
Acampamento Marielle Franco comercializa produção em feiras do município de Itinga, no Maranhão - Foto: MST

O Tribunal de Justiça do Maranhão determinou o despejo das 150 famílias do acampamento Marielle Franco, localizado no município de Itinga, região amazônica do estado. A ação expedida pela juíza Vanessa Lordão tem data prevista para 27 de agosto. 

Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), apesar de pertencer à União, a área vem sendo requerida pela Viena Siderúrgica. A empresa já foi incluída diversas vezes na “Lista Suja” do trabalho escravo. 

O despejo ameaça a vida de centenas de agricultores que tornaram o acampamento o maior produtor de alimentos na região. Somente no primeiro ano, entre 9 de junho de 2018, quando a ocupação teve início, até junho deste ano, foram produzidos cerca de 60 hectares de alimentos. 

Entre os destaques da produção, estão cerca de 80 toneladas de grãos de arroz e 25 toneladas de abóbora. Feijão, milho, macaxeira e hortaliças também são produzidos em larga escala pelos agricultores. Os produtos são destinados à subsistência das famílias do acampamento e comercializados em feiras de Itinga. 

Em pouco mais de um ano ocupando o local, os acampados organizaram estruturas como mercearia e um ônibus para atender as demandas cotidianas dos agricultores. 

Os moradores também construíram uma escola que foi reconhecida pelo município de Itinga como anexo da Escola Municipal Luís Rocha. Atualmente, a unidade escolar possui 90 alunos matriculados no ensino infantil, fundamental e de jovens e adultos (EJA).

Histórico sujo

Segundo o relatório “Carvoaria Amazônia: como a indústria de aço e ferro gusa está destruindo a floresta com a participação de governo", produzido pelo Greenpeace em maio de 2012, a Viena Siderúrgica também apresenta irregularidades na cadeia de produção do ferro gusa, matéria-prima do aço. 

Uma investigação da ONG constatou que a fornecedora alimentava seus fornos com carvão associado a práticas ilegais como trabalho análogo à escravidão, extração ilegal de madeira, desmatamento sem autorização e invasões de terras indígenas.

De acordo com o estudo, a empresa, que tem sede em Açailândia (MA), controla cinco altos-fornos e tem relação de subsidiária com outras duas grandes guseiras, a Companhia Vale do Pindare e a Siderúrgica do Maranhão. 

A Viena também é fornecedora da siderúrgica de Columbus, no Mississippi (EUA), operada pela Severstal, da Rússia, que por sua vez atende a montadoras como Ford, General Motors, BMW, Mercedes e Nissan. O relatório do Greenpeace define de forma enfática que “a Viena é um exemplo da impunidade que corre solta nesse setor”. 

 

Edição: Rodrigo Chagas