30 anos depois, a sociedade alternativa segue presente na Passeata em homenagem
30 anos atrás, o mundo perdia uma das mais geniais figuras da música brasileira. O cantor Raul Seixas é considerado por muitos como o pai do rock no Brasil. Ele morreu no dia 21 de agosto de 1989, com 44 anos.
É dele o conceito de Sociedade Alternativa, baseado nos escritos do ocultista britânico Aleister Crowley e sua Lei de Thelema: "Faze o que tu queres pois é tudo da lei".
As letras históricas fazem parte do patrimônio cultural brasileiro, e não há pessoa no país que nunca tenha ouvido falar de Raul Seixas. Entre os muitos artistas que se propuseram a fazer covers do cantor, está Roberto Seixas, que iniciou seu trabalho em 1987 e teve contato direto com a família do maluco beleza.
“Até hoje, as pessoas sentem muita falta material dele, você entendeu? Da pessoa Raul Seixas. E o que mais uniu o meu trabalho e me fortaleceu naquela época, em 1987, para fazer o cover, foi exatamente isso. Não me chamou tanto a atenção o lado musical do Raul, mas sim a pessoa, o ser humano Raul Seixas”, comenta o cantor.
A chamada Sociedade Alternativa é uma filosofia de vida que ainda hoje tem seguidores. A partir dela e de outras composições, pode-se dizer que as letras do cantor são sinônimos de resistência. Em 1971, durante o regime militar brasileiro, Raul lança “Aos Trancos e Barrancos”, letra na qual critica a ditadura e que ainda hoje é relembrada na luta contra o autoritarismo.
“O Raul atingiu esse público, esse jovem que gritava por liberdade dentro de um movimento que era repressão, totalmente repressão. Você não podia falar, dizer, escrever. Eu até chego a dizer que esse movimento da década de 70, de repressão, me parece que está pouco disfarçado, um pouco não, hoje a gente está um pouquinho pior. E não só o Raul contribuiu para para que houvesse um movimento diferente, mas outros cantores também passaram por esse mesmo movimento”, lembra Roberto Seixas.
A comoção pelo cantor é tão grande que virou lei, datada do Diário Oficial de São Paulo. Desde 2007, a Lei nº 14.373 institui o "Dia para sempre Raulzito", a ser comemorado anualmente na data de 21 de agosto, protocolada pelo deputado estadual Carlos Giannazi, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Desde então, é realizada também a Passeata em Homenagem ao Raul Seixas, também em São Paulo, que sai do Theatro Municipal em direção à Praça da Sé e traz fãs de todo o Brasil.
Abel Trindade participa da marcha desde 2010. Ele conta que a sensação de estar entre fãs é única. “Vem gente do Brasil inteiro. Tem gente do Paraná, tem um rapaz que sempre vem, de Belém do Pará. É muito legal porque não necessariamente conhecemos as pessoas, mas é como se conhecesse, uma sensação de estar entre amigos, você chega e canta qualquer música do Raul e todo mundo canta junto, levam violão e gritam palavras de ordem. É muito legal, um dia que a gente marca para ficar na agenda mesmo.”
Hoje, 30 anos após da morte do cantor, a obra desperta lembranças nos mais velhos e é fonte inspiração para os mais novos. As letras são temas de pesquisas acadêmicas dentro e fora do Brasil.
E como ele mesmo diria, hoje podemos ficar, com certeza, maluco-beleza.
Edição: Katarine Flor