Terminou nesta segunda-feira (26) a 45ª reunião de cúpula do G7, grupo formado por chefes de Estado e de governo da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Durante a reunião, que durou três dias, os representantes discutiram temas que vão do aumento das queimadas na Amazônia ao acirramento das tensões envolvendo o Irã.
O encontro ocorreu na cidade de Biarritz, na França, país que exerce a presidência rotativa do bloco. Além das sete nações com assento fixo, oito convidados participaram da reunião. A União Europeia (UE) esteve presente como observadora.
Puxado pelo anfitrião Emmanuel Macron, o aumento das queimadas na Amazônia se tornou um dos assuntos mais discutidos durante a cúpula. O presidente francês chegou a afirmar que a situação merece uma “mobilização de todas as potências” para lutar contra o desmatamento e em favor do reflorestamento.
“Há uma convergência real para dizer que todos concordamos em ajudar os países afetados por esses incêndios o mais rápido possível”, afirmou o mandatário francês, que também criticou a falta de ação de Jair Bolsonaro (PSL) no combate às queimadas.
Os países do G7 anunciaram que pretendem disponibilizar US$ 20 milhões (cerca de R$ 91 milhões) para ações de combate a queimadas. A quantia, segundo fontes do governo francês, deve ser enviadas “imediatamente” aos países afetados.
Bolsonaro criticou a ajuda e voltou a atacar o presidente francês. “Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém -- a não ser uma pessoa pobre, né? -- sem retorno? Quem está de olho na Amazônia? O que querem lá?”, disse.
A maior parte da quantia doada será destinada ao envio de aviões Canadair de combate a incêndios. O grupo também decidiu apoiar um plano de reflorestamento de médio prazo, que ainda deve ser apresentado em setembro na Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Irã
Outro tema em destaque foi o do acirramento das tensões envolvendo Estados Unidos e Irã. A escalada começou após Donald Trump anunciar que o país deixaria o Plano de Ação Conjunto Global, pacto que tem como objetivo limitar o programa nuclear da república islâmica em troca da retirada de sanções econômicas aplicadas contra Teerã.
Em vigor desde julho de 2015, o acordo foi assinado por Alemanha, China, França, Rússia, Reino Unido e EUA. Após Washington deixar o acordo, o Irã foi gradativamente abandonando parte das exigências contidas no pacto. Com exceção dos EUA, os demais signatários sempre afirmaram que o Irã respeitou os termos do acordo.
Embora Trump tenha adotado um tom de hostilidade contra o Irã desde que assumiu a presidência, o mandatário sinalizou nesta segunda que pode estar aberto a uma reaproximação diplomática.
Durante entrevista concedida na cúpula, Trump afirmou que espera que o Irã “seja um país muito bom, muito forte” e que seu objetivo não é levar o país a uma mudança de regime. “Queremos fazer o Irã rico novamente, deixá-los serem ricos, ficarem bem, se eles quiserem”.
Apesar da fala, ele afirmou que não pretende retirar as sanções e que “ainda é cedo” para um reencontro com as autoridades do país.
Os europeus, por outro lado, tentam mostrar comprometimento com o acordo nuclear e convencer Washington a suspender pelo menos o veto à exportação de petróleo iraniano, principal fonte de renda do país. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, está na França para se reunir com integrantes dos governos da Alemanha e Reino Unido.
Guerra comercial
Após a nova escalada na guerra comercial entre a China e os EUA, os dois países sinalizaram que podem buscar um diálogo para reduzir as tensões.
“Eles nos telefonaram e começaremos a negociar em breve, e veremos o que acontece”, revelou Trump - que disse considerar o presidente chinês, Xi Jinping, “um grande líder” e que “uma das razões pelas quais a China é um grande país é que entende como a vida funciona”.
O vice-premiê chinês, Liu He, também se pronunciou, afirmando que o país pretende resolver as disputas comerciais com diálogo. “Estamos disposto a resolver a questão por meio de consultas e cooperação com uma atitude calma e nos opomos firmemente à intensificação da guerra comercial”, disse.
Na última sexta-feira (23) Trump havia anunciado a aplicação de novas tarifas sobre os produtos importados chineses e ameaçou retirar empresas norte-americanas do país asiático.
No sábado, chegou a afirmar que “lamenta não ter aumentado mais as tarifas”.
Brexit
A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) foi discutida de forma paralela durante a cúpula. O divórcio, aprovado em 2016, inicialmente deveria ter acontecido em 29 de março deste ano. As tensões em torno da separação já levaram à queda da ex-primeira-ministra britânica, Theresa May.
Após uma reunião com o novo premiê britânico, Boris Johnson, Trump afirmou que se o Brexit se concretizar, ele conseguirá “rapidamente [...] um fantástico acordo comercial muito grande, o maior que ele [Johnson] já viu”. A conversa entre os dois líderes ocorreu fora da cúpula.
Com um novo prazo de separação fixado para 31 de outubro, ainda não está claro qual será será o futuro do Brexit. O Parlamento do Reino Unido, liderado por Johnson, pretende aprovar um acordo antes do esgotamento do prazo, o que traria menos consequências negativas para a economia europeia.
Johnson afirmou estar “mais otimista” após a reunião com Trump. No entanto, segundo ele, “vai ser difícil” [aprovar um acordo], pois há uma discordância profunda” entre Londres e a União Europeia.
Edição: João Paulo Soares