Perseguição

Mortes de Marisa, Vavá e Arthur são tratadas com deboche e sarcasmo pela Lava Jato

Tragédias familiares envolvendo o ex-presidente Lula revelam o grau de mesquinhez dos procuradores de Curitiba

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Lula é abraçado durante o velório de Marisa Letícia no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, em 2017
Lula é abraçado durante o velório de Marisa Letícia no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, em 2017 - Ricardo Stuckert

As mortes de familiares do ex-presidente Lula – a mulher Marisa Letícia, o irmão Vavá e o neto Arthur, no intervalo de dois anos – foram tratadas com ironia, deboche e sarcasmo por integrantes da Lava Jato nos grupos de discussão que a turma alimentava no Telegram, segundo revelam novos diálogos vazados nesta terça-feira (27) pelo UOL, em parceria com o Intercept Brasil.

Diante da notícia de que a ex-primeira-dama Marisa Letícia tinha sofrido um AVC, em janeiro de 2017, o chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, tripudiou: “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao tendimento sem resposta, como vegetal”. Em resposta, o procurador Januário Paludo ironizou: “Estão eliminando as testemunhas...”.

Com a morte cerebral confirmada em 3 de fevereiro, a procuradora Laura Tessler destila arrogância: “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”. Outra procuradora, Jeusa Viecili, faz piada: “Querem que eu fique pro enterro?”

Após Lula acusar os arbítrios da Lava Jato contra ele sua família, incluindo ataques à própria Marisa, como causa do AVC, os procuradores se enfurecem. Paludo insinua que de fato acredita na tese de queima de arquivo. “(…) sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma”, diz

Vavá

Dois anos depois, com as mortes de Vavá (janeiro de 2019) e Arthur (março), a mesquinhez dos procuradores volta a se manifestar. Lula já se encontrava preso em Curitiba e os procuradores revelam temor com uma eventual licença para ele ir aos velórios.

“Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso”, adverte Dallagnol, quando da morte de Vavá.

Pelas conversas, eles acreditavam que os petistas não deixariam Lula voltar para a prisão.

“Uma temeridade ele sair”, diz o procurador Orlando Martello. “Não é um preso comum. Vai acontecer o q aconteceu na prisão. A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta, vai dar ruim!!”

Diante das ponderações do procurador Diogo Castor, que lembra aos colegas que todos os presos em regime fechado têm o direto previsto em lei de acompanhar o enterro de familiares próximos, Martello rebate, advogando explicitamente que se viole a legislação: “3, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”.

Outro promotor, Athayde Ribeiro Costa, chega a sugerir uma alternativa caso Lula não fosse liberado para despedir-se do irmão: “leva o morto lá na pf”.

Quando a Polícia Federal emite um parecer afirmando que seria temerário liberar Lula, surge outro defensor do direito do ex-presidente. Antônio Carlos Welter lamenta a manifestação da PF, mas Paludo debocha: “O safado só queria passear e o Welter com pena”.

A preocupação de Welter e outros é com a possível repercussão negativa e com a “vitimização” de Lula. Mas Laura Tessler acalma os colegas: “O foco tá em Brumadinho… logo passa… muito mimimi”.

O estouro da barragem que matou centenas de pessoas em Brumadinho, Minas Gerais, tinha acontecido quatro dias antes da conversa.

Arthur

A frieza e o tom de deboche não se alteram nem mesmo quando a vítima é uma criança. Em 1º de março deste ano, vem a notícia da morte do neto de Lula, Arthur, de 7 anos.

Reação de Jerusa Viecili: “Preparem para nova novela ida ao velório”.

“Putz… no meio do carnaval”, lamenta Athayde Ribeiro Costa.

Com a autorização para Lula ir ao velório, o sarcasmo dos promotores se volta contra o ministro do STF Gilmar Mendes, que ligou ao ex-presidente para oferecer-lhe condolências.

O procurador Roberson Pozzobon comenta, referindo-se a Mendes: “Estratégia para se ‘humanizar’, como se isso fosse possível no caso dele rsrs”.

Dallagnol discorda, afirmando que o ministro estaria na verdade ampliando sua “base de esquerda”, já que teria pretensões de se candidatar ao Senado. Jerusa Viecili completa: “GM não dá ponto sem nó”.

Edição: João Paulo Soares