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Premiê britânico consegue aval da Rainha e exclui parlamento do debate sobre Brexit

Deputados só voltam do recesso 15 dias antes do prazo final para saída a Inglaterra da UE: "ameaça à democracia"

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O pedido de Johnson é visto como uma forma de dificultar as atividades dos parlamentares que se opõem ao à saída sem acordo
O pedido de Johnson é visto como uma forma de dificultar as atividades dos parlamentares que se opõem ao à saída sem acordo - Foto: Victoria Jones/Pool/AFP

A rainha Elizabeth II aceitou nesta terça-feira (28) o pedido do premiê britânico Boris Johnson para suspender o Parlamento até 14 de outubro, apenas duas semanas antes do prazo final da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, previsto para 31 de outubro. A data inicialmente prevista para a volta do recesso de verão era 3 de setembro.

O pedido de Johnson é visto como uma forma de dificultar as atividades dos parlamentares que se opõem à saída sem acordo. 

No pedido enviado à rainha, Johnson afirmou que "a decisão de encerrar a atual sessão parlamentar - a mais longa em quase 400 anos e uma das menos ativas nos últimos meses - permitiria ao primeiro-ministro apresentar um novo programa nacional aos deputados para debate e escrutínio". O premiê ainda disse que dará garantias de que "exista tempo suficiente" para o Parlamento continuar analisando as questões sobre o Brexit, antes e depois do Conselho Europeu. 

Reações

A notícia provocou reações duras de oposicionistas e governistas. O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, classificou a medida como um "ultraje constitucional". "É óbvio que o objetivo de [suspender o Parlamento] agora seria impedir [os parlamentares] de debater o Brexit e de cumprir seu dever de moldar um curso para o país", afirmou.

O líder trabalhista Jeremy Corbyn disse que o plano do premiê é “um ultraje e uma ameaça à nossa democracia”.

Já a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, afirmou, em uma publicação no Twitter, que "parece que Boris Johnson está prestes a fechar o Parlamento e impor um Brexit sem acordo". "A menos que os parlamentares se unam para pará-lo na próxima semana, hoje será lembrado como um dia negro para a democracia britânica".

O conservador Dominic Grieve, que é do partido de Johnson, chamou a iniciativa de "ato escandaloso". O ex-premiê John Major, também conservador, anunciou que estuda levar à Justiça o pedido de Johnson.

Após o anúncio, a libra esterlina sofreu uma desvalorização de quase 1%. A moeda britânica chegou a perder 0,94% em relação ao euro e ao dólar. No último final de semana, Johnson já havia dito ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que o Reino Unido sairia da UE na data proposta, independentemente das circunstâncias.

Edição: Opera Mundi