Com estreia hoje (29), “Bacurau”, o novo filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foi premiado em festivais mundo afora. Certamente, este filme ficará marcado na história do cinema brasileiro, não apenas pelos prêmios já conquistados e aqueles já esperados (inclusive, seu nome já consta na lista de possíveis indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro), mas por sua relação com nosso tempo. Sua narrativa conta a história de um Brasil que resiste, em meio a um governo autoritário e instável politicamente.
A escolha das locações para “Bacurau” não é à toa. Nada mais justo do que ser gravado no Nordeste, mais precisamente na região da comunidade da Barra, na cidade de Parelhas, e em Acari. Por isso, aqui no RN podemos considerar o filme um pouco nosso também.
No enredo, o Professor Plínio, junto com os estudantes, percebem que Bacurau não mais aparece no GPS. Sumiu do mapa, por assim dizer. Aos poucos, uma série de assassinatos, comandada por um grupo de forasteiros norte-americanos, tenta apagar de fato a cidade do mapa, como numa competição de tiros e mortes. O que eles não esperavam era a resistência de seus moradores. Resistência essa rememorada pelos diretores através do uso de alegorias visuais, lembrando o cangaço. Os estrangeiros, contudo, não atentando em visitar o museu, conhecer as histórias locais de luta contra opressões, são derrotados pela gente da comunidade. Afinal, não levaram nem em consideração a origem do nome da cidade. Bacurau é também um pássaro arredio e bravo.
Bacurau é o Brasil que resiste. “Quem nasce em Bacurau é o quê?”, pergunta a forasteira do sudeste, ao que uma criança responde: “É gente!”. A luta para serem reconhecidos como gente é o que move a narrativa do filme. Por isso que ele se assemelha tanto à realidade no Brasil atual: estamos todos lutando para nos afirmar enquanto gente. Para gritar os direitos que nos cabem.
*Marina Dantas Pinheiro é professora de História na rede privada de ensino.
Edição: Marcos Barbosa