O Parlamento do Reino Unido aprovou nesta quarta-feira (4) uma emenda que impede que o governo conclua o processo do Brexit sem um acordo com a União Europeia, marcando uma derrota para o primeiro-ministro conservador Boris Johnson. Após o resultado, o premiê apresentou uma moção para convocar eleições gerais no país.
Vitoriosa por 327 votos contra 299, a proposta obriga o premiê a estender o prazo para a saída do Reino Unido da UE para o dia 31 de janeiro se o Parlamento não aprovar um acordo do governo ou não aprovar a saída sem acordo.
Após o resultado, Johnson criticou a medida afirmando que ela representa um "atraso sem sentido" e voltou a dizer que o país agora precisa decidir em eleições gerais quem conduzirá o processo até o final.
"É uma emenda sem precedentes na história desta Casa, buscando forçar o primeiro-ministro a se render em uma negociação internacional. Na minha visão e na visão deste governo, deve haver uma eleição no dia 15 de outubro e eu convido o honorável cavalheiro [o trabalhista Jeremy Corbyn, líder da oposição] a decidir quem de nós vai como primeiro-ministro para essa reunião crucial no dia 17 de outubro", disse Johnson.
Por sua vez, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, afirmou que o premiê não tem uma estratégia para alcançar um acordo com a UE e que, se o governo quiser convocar eleições, deve primeiro cumprir a emenda aprovada nesta quarta-feira.
"Esse primeiro-ministro diz que tem uma estratégia, mas ele não pode nos contar qual é, [...] e não pode contar para a União Europeia. Não há absolutamente nada aí. A oferta de eleições de hoje é como a oferta de uma maçã no conto da Branca de Neve, porque o que ele está oferecendo não é uma maçã, nem mesmo uma eleição, mas o veneno de um [Brexit] sem acordo. Deixe essa emenda passar [...] e então nós apoiaremos uma eleição", disse Corbyn.
Maioria
A votação desta quarta-feira ocorreu um dia depois do partido conservador perder maioria no Parlamento, o que aconteceu quando o deputado Phillip Lee literalmente abandonou a bancada conservadora, atravessou a Casa e se sentou na fileira dos oposicionistas Liberais Democratas durante um discurso do premiê.
A coalizão dos tories com o direitista DUP (Partido Unionista da Irlanda do Norte) agora ficou com 319 assentos no Parlamento, contra 320 ocupados pelas legendas de oposição.
Johnson condenou a saída de Lee e disse que ela faz parte de um plano para os oposicionistas aprovarem a proposta que busca evitar uma saída da UE sem acordo, chamado pelo conservador de "a emenda da rendição".
Suspensão do Parlamento
Na última terça-feira (28), Johnson teve seu pedido de suspender o Parlamento até 14 de outubro acatado pela rainha Elizabeth II.
A decisão gerou uma série de protestos em diversas cidades do país no último final de semana. Aos gritos de "parem o golpe" e "salvem a democracia", os britânicos encararam a decisão como uma forma do premiê dificultar as atividades dos parlamentares que se opõem ao Brexit sem acordo.
Edição: Opera Mundi