A Polícia Civil identificou os dois seguranças suspeitos de torturar um adolescente de 17 anos nas dependências de um supermercado da rede Ricoy, na Zona Sul de São Paulo. Esta é a terceira vez que o jovem foi torturado pelos mesmos agressores.
O vídeo viralizou nesta terça-feira (3) e remete a tempos da escravidão. Nas imagens, o jovem negro aparece despido sendo chicoteado por seguranças do supermercado. A agressão é seguida por risos e intimidação.
Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), acompanha as investigações. Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, ele afirmou que existem indícios contundentes de crime de tortura praticado pelos seguranças.
A Lei 9.455/97 estabelece como tortura quando alguém é submetido a intenso sofrimento físico ou mental com emprego de violência ou grave ameaça. E prevê penas de 2 a 8 anos aos acusados.
De acordo com o boletim de ocorrência, o episódio aconteceu no mês passado. Em depoimento, o adolescente disse ter furtado uma barra de chocolate da prateleira do estabelecimento.
Em seguida, o rapaz foi abordado pelos dois seguranças identificados como Santos e Neto. Eles o levaram para um quarto da loja, onde açoitaram o jovem com um chicote feito de fios entrelaçados.
“Nós estamos em uma ascensão de incivilidade, de barbárie no Brasil. Uma parcela da sociedade brasileira acha que foi pouco o que o menino sofreu em razão de um furto famélico, de valor insignificante, uma barra de chocolate”, afirmou o conselheiro do Condepe.
O furto famélico, mencionado por Ariel, é aquele cometido pela necessidade de se alimentar. Ele é considerado como uma forma de estado de necessidade. Isto porque a vida deve ser considerada mais valiosa do que a propriedade.
“Infelizmente, nós vivemos um momento muito triste, de grandes retrocessos na sociedade brasileira”, lamenta.
“Os discursos de ódio - favoráveis à tortura, à violência policial, à violência por parte de seguranças - são estimulados por políticos, como o governador de São Paulo, o do Rio de Janeiro e o próprio presidente da República. Eles também influenciam para que uma parcela da sociedade brasileira seja favorável à tortura, à violência, ao racismo principalmente contra os setores mais vulneráveis da nossa sociedade”.
O jovem agredido no supermercado Ricoy vive em situação de rua desde os 12 anos de idade. Ele sobrevive como catador de latinhas. O conselheiro do Condepe conta que o rapaz vem de uma família de sete irmãos, onde o pai é falecido.
Em nota, a Associação Ricoy Supermercados repudiou os fatos e informou que os dois seguranças acusados de praticarem os atos não prestam mais serviços para o estabelecimento. Além disso, o Ricoy afirmou que colabora com as investigações e que dará o suporte necessário à vítima e sua família.
Edição: Katarine Flor