Acari, sarapó, piranha, peixe-agulha, arraia e muitos outros peixes, além de cobras, insetos e penas de aves. As pessoas que participaram do ato do Dia da Amazônia, em Belém do Pará tiveram a oportunidade de aprender com cientistas um pouco mais sobre a biodiversidade característica da região. O ato teve concentração às 17h, na frente do Mercado de São Brás.
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A ideia da manifestação foi realizar um ato político-cultural para propor à população uma reflexão sobre a importância da floresta e a riqueza de espécies que existe na região amazônica.
A pós-doutoranda do Museu Emílio Goeldi Naraiana Benone afirma que na Amazônia vivem espécies particulares de peixes que só existem lá. É o caso do sarapó, um peixe elétrico que assim como poraquê consegue emitir uma carga elétrica. A diferença entre os dois é que apenas a carga emitida pelo poraquê pode ser sentida pelo ser humano.
Benone foi além e disse que há grupos de peixes particulares da Volta Grande do Xingu, como é o caso do acari-zebra. Esse peixe possui placas-ósseas em vez de escamas, o que o ajuda a navegar nas correntezas do Xingu e ele possui ainda uma ventosa na boca que o permite fixar-se em pedras.
Dentro do grupo do acari, a especie chamada acari-zebra corre o risco de ser extinta em função da usina hidrelétrica de Belo Monte, isso porque a redução de vazão do rio inviabilizaria o peixe de se reproduzir, o que levaria a sua espécie à extinção.
"Ali na Volta Grande existem muitas espécies endêmicas de acaris, que são os peixes cascudos. Esses peixes, como o acari só existe na Volta Grande. Eles não ocorrem nem em outros pontos do Rio Xingu e nem em outros rios amazônicos. Com a construção da hidrelétrica de Belo Monte houve uma mudança muito grande no tipo de ambiente que tinha ali. Agora, ao invés de corredeira, temos um rio com vazão reduzida, mudando as características do fluxo de água. Com isso, pode ser que exista a extinção de várias espécies. A espécie símbolo dali do Rio Xingu é o Acari-zebra", afirma.
A pesquisadora faz alerta também ao desmonte promovido pelo governo Bolsonaro nas estruturas de financiamento do trabalho dos pesquisadores brasileiros.
"Com esse corte que o governo Bolsonaro está fazendo, ele está destruindo a ciência. Não tem outra palavra. Ele está realmente destruindo. Existe um grande número de pesquisadores desempregados e a produção científica efetivamente no Brasil vai parar. Qualquer desenvolvimento tecnológico que a gente possa ter. Todo o conhecimento sobre a nossa diversidade, porque ainda há muito para se descobrir vai ser feito por pesquisadores estrangeiros, então, não vai mais pertencer ao público brasileiro, vai pertencer a outras pessoas", argumenta a cientista.
Talita Viana faz mestrado em biodiversidade e evolução no Museu Goeldi e foi uma das atingidas com o corte de bolsas promovido pelo governo.
"Eu sou representante discente dos alunos de mestrado do programa que eu faço parte e o nosso programa está sem bolsa. Então, todas as pessoas que entraram no mestrado de biodiversidade e evolução, esse ano, estão sem bolsa. Os doutorandos também estão sem bolsa e essa é uma situação muito precária", explica a mestranda.
O protesto contou com a participação de vários movimentos populares. Entre eles, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Associação Indígena Metropolitana Uyka Kwara, o Juntos, a Frente Indígenas Sem Medo e o Ocupa República.
Edição: Rodrigo Chagas